quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Piloto de Guerra" - Antoine Saint-Exupéry


Antoine de Saint-Exupéry fez o seu batismo de vôo aos 12 anos e aos 22 inicia a sua carreira como piloto militar e em 1939 na Força Aérea Francesa inicia a sua participação na guerra contra a Alemanha Nazi.
Apesar deste livro ter sido editado em 1942, a acção passasse 1940, em plena invasão de França pelos nazis, Saint-Exupery com o posto de capitão pertence à esquadrilha de reconhecimento 2/33, as forças armadas francesas estão a ser dizimadas pelos alemães e cada vez as missões que são atribuídas à sua esquadrilha são quase impossíveis de realizar com sucesso, e é uma missão dessas que é atribuída a Saint-Exupéry, fazer um vôo de reconhecimento sobre a cidade de Arras na parte ocupada pelos nazis.
No avião com Saint-Exupéry seguem o tenente Dutertre e o artilheiro e juntos partem para a missão sem saber se regressam.
A partir daqui inicia-se a viagem, uma viagem física, uma missão concreta atribuída, mas também uma viagem introspetiva, iniciática e filosófica, em que Saint-Exupéry nos vai expondo como se fosse um monólogo os seus pensamentos sobre a guerra, a França, o caos que se seguiu à invasão, a fuga das populações, a má organização política e militar francesa, o poderio militar e industrial alemão e também a amizade e camaradagem dos que apesar de todas as vicissitudes de uma derrota iminente continuam a lutar.
Estes pensamentos por vezes são interrompidos por acções reais como manobras com o avião e a fuga a um ataque de caças alemães, finalmente chegam à zona de Arras onde têm de baixar a altitude para fotografarem as posições do inimigo, onde são brutalmente bombardeados pela artilharia anti-aérea alemã, aí os pensamentos de Saint-Exupéry viram-se para a guerra, o sentido do dever, a morte, o medo ou a indiferença de morrer.
A missão é concluída com sucesso e no regresso (esta será sem dúvida a parte mais filosófica do livro), Saint-Exupéry debata-se com as razões da guerra, porquê combater, mas também com a Humanidade, o que é o Homem, o individual e o coletivo, e o seu amor à França.
Para além do "Principezinho" livro que li há muitos anos, nunca tinha lido nada de Saint-Exupéry, mas adorei este livro, é pequeno mas cheio de conteúdo, coloca questões que cada vez mais são pertinentes, demonstra um pensamento e uma sensibilidade sem precedentes, li esta reedição dos "Livros do Brasil" que tem a particularidade de ter sido traduzida pelo poeta Ruy Belo, o que traz ainda mais beleza ao texto.
Pena a sua morte prematura em 1944, (ainda hoje por explicar) igualmente num vôo de reconhecimento no sul de França, porque de certeza que para além dos excelentes livros que nos deixou, mais nos iria deixar. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Coleção "Clássicos para leitores de hoje" - Relógio D'Água



Recentemente uma das (para mim) melhores editoras do país, a Relógio D'Água lançou uma coleção de livros para comemorar o aniversário da criação da mesma em 1983.
Esta coleção com o nome de "Clássicos para leitores de hoje" é uma das maiores iniciativas editoriais deste ano, não só porque nos proporciona a edição e reedição de grandes obras e autores da literatura, como também disponibiliza esses mesmos livros a preços bastante convidativos, entre os 5€ e os 10€.
Ou seja por preços quase simbólicos temos acesso ao melhor da literatura, com autores como Proust, Jane Austen, Montaigne, Gogol, Dickens, Sá Carneiro, etc. e engane-se quem pensar que os livros são de fraca qualidade, porque não são, são edições cuidadas com um excelente design, capas interessantes e todas as obras trazem um prefácio para melhor introdução ao autor e à obra.
Durante este ano serão editadas 35 obras, mas continua em 2017 sendo 50 livros no total a serem editados.
Como podem perceber pelas fotos estou a fazer a coleção e tenciono comprar todos, é uma oportunidade única para quem gosta de ler clássicos e ter uma biblioteca com os mesmos em casa.

sábado, 20 de agosto de 2016

"1984" - George Orwell


Este é um dos livros que há muito queria ler, mas que por inúmeras razões foi sempre adiada a sua leitura, até que finalmente me decidi a lê-lo.
Foi o último livro que George Orwell escreveu e que (pode-se dizer) o levou à morte, foi inspirado na sua experiência pessoal durante a guerra civil de Espanha na qual ele participou pelo lado dos republicanos.
Estamos (talvez) no ano de 1984 em Londres, o mundo tal como o conhecíamos deixou de existir, depois de inúmeras guerras e revoluções apenas existem três países a Oceânia (onde se passa a acção), a Eurásia e a Lestásia, todos eles com regimes totalitaristas e em guerra contínua.
Na Oceânia, mais propriamente em Londres o regime é o “socing” (socialismo inglês), uma doutrina que advêm do socialismo mas que se tornou num regime centrado no “Partido”, que controla tudo e todos e tem como símbolo o “Grande Irmão” uma espécie de ser omnipotente e omnipresente a quem todos devem obedecer. Neste mundo existem três espécies de classes sociais, o “partido interno”, chefes e dirigentes directos do partido, o “partido externo” os funcionários do partido (tal como os nossos funcionários públicos uma espécie de classe média) e os “proles”, o povo que pouco mais serve para trabalhar e procriar.
É neste mundo que encontramos Winston um homem de meia-idade, pertencente ao “partido externo”, funcionário do “ministério da verdade” uma espécie de ministério da propaganda onde todo o passado é alterado conforme as vontades do partido, as notícias são apagadas e alteradas, a literatura censurada e reescrita de forma a que tudo o que “Partido” dissesse e fizesse fosse sempre verdade, mas Winston tem dúvidas, apercebe-se que certas coisas não “batem certo” e isso vai fazendo com que secretamente se vá virando contra o “Partido”, entretanto conhece Júlia também ela uma rebelde e apaixonam-se, coisa totalmente proibida visto que o amor, o prazer a sexualidade eram considerados crimes. Vão se encontrando às escondidas e através de O’Brien, um dirigente do “partido interno”, ingressam na “fraternidade” uma suposta organização secreta que tem por objectivo derrubar o “Partido” e o “Grande Irmão” e restabelecer a democracia.
Naturalmente são apanhados e presos e é nesta última parte que Orwell acentua a parte mais filosófica desta obra, durante o período de prisão, tortura e doutrinação de Winston é questionada e argumentada a luta do bem contra o mal, o individualismo contra o colectivo, a liberdade e o totalitarismo e o poder, em suma a condição humana.

É uma obra muito forte, apesar de escrita pós segunda guerra mundial e fazendo uma crítica muito feroz aos regimes totalitários da época, principalmente ao Estalinismo, mas também ao Nazismo, continua actual e faz-nos pensar e olhar para o rumo político que o mundo actual está a tomar, o ressurgimento da extrema-direita, o fundamentalismo religioso, o xenofobismo, os Trumps que por aí andam, a tirania dos mercados… Enfim todos os ingredientes para que a nossa civilização tenha também um fim triste.