sexta-feira, 15 de julho de 2016

Céu Nublado com Boas Abertas - Nuno Costa Santos


Nuno Costa Santos, não é a primeira vez que escreve um livro, já tem vários editados, além disso é argumentista, cronista, dramaturgo, crítico literário, etc. etc.. Mas este "Céu Nublado com Boas Abertas" é o seu primeiro romance.
Apesar de ser um livro de "estreia", não deixa de ser um livro muito bom e até certa medida original.
Tudo começa com o personagem (talvez o próprio autor) na casa do seu avô em Lisboa, que ao fazer arrumações e escolha de livros, depara-se com uma série de papéis que seriam uma espécie de autobiografia que o seu avô fez mas que nunca publicou e junto a esses papéis encontra uma nota que diz "Se tiver um descendente que se interesse pela escrita, peço-lhe para ir a São Miguel e trazer no regresso um conjunto de histórias do presente da Ilha"
Com este mote inicia-se duas viagens em simultâneo, uma no presente na Ilha de São Miguel, para onde o autor parte para satisfazer o desejo de seu avô e escrever um livro sobre os Açores e outra viagem ao passado, à vida do seu avô, que sofre de tuberculose e que após o casamento parte para o continente, para um sanatório no Caramulo para os tratamentos.
Assim se vão cruzando as duas vidas, neto e avô separadas por várias décadas, o autor no presente em São Miguel, ilha em que viveu na sua juventude, onde se vê envolvido com uma série de personagens como por exemplo o Laureano "veneno", pequeno vigarista, Neuza, stripper e namorada de Laureano, Marinho que vive com o desgosto de uma noite na década de 80 do século passado ter sido barrado à porta da discoteca, um inspetor da judiciária que se delicia com comédia stand up Sueca, um pescador que parece Céline, um estrangeiro que parece Kafka e até um chinês que é mordomo numa festa do Sr. Santo Cristo, paralelamente ou melhor encadeadamente temos também a vida do avô, o serviço militar durante o qual conhece a futura mulher e avó do autor e contrai igualmente a tuberculose, o casamento e a ida para o sanatório no Caramulo, onde esteve quatro anos sem ver a esposa, a vinda da mesma para ao pé dele, a gravidez e regresso a São Miguel, as dificuldades no tratamento e as operações.
Tudo isto nos é relatado de uma forma introspetiva, melancólica, como uma busca da sua própria existência e razão de ser, (certas partes remetem-me para "A Montanha Mágica" de Thomas Mann) e com a particularidade de termos imagens (fotografias) dos personagens dos manuscritos e livros, colocados no texto como complemento.
Neste livro existe também outra personagem e temática, a mais importante de todas, os próprios Açores, a insulariedade, o seu povo as suas tradições, a sua luta contra o isolamento, as tempestades, vulcões e terramotos, esse povo profundamente religioso e introvertido, mas há também a natureza, a fauna, a flora essa beleza que nos enche os olhos e o coração, (quem conhece os Açores sabe bem do que eu estou a falar).
Concluindo este livro é muito bom de se ler, sem grandes complicações mas muito bonito, com uma ponta de humor e ironia, mas também com muito amor.

1 comentário:

Carlos Faria disse...

Fiquei curioso, com este post também ficou anotado nas obras a adquirir