sexta-feira, 29 de abril de 2016

"O Demónio da Depressão Um Atlas da Doença" - Andrew Solomon


Novamente por motivos profissionais estive ausente por algum tempo, mas felizmente desta vez a parte profissional foi mais "leve" e tive algum tempo disponível para me dedicar à leitura, li vários livros mas o que mais me interessou foi este "O Demónio da Depressão Um Atlas da Doença" de Andrew Solomon.
Andrew Solomon escritor e jornalista Norte-Americano (com dupla nacionalidade Britânica), traz-nos este fantástico livro, sobre uma doença que afeta milhares de pessoas e que ao mesmo tempo é tão desconhecida como constrangedora para quem sofre dela.
Escrito e vivido na “primeira pessoa” Andrew Solomon através da sua experiência pessoal com a depressão e juntamente com um exaustivo trabalho de investigação jornalística, científica e com entrevistas a pessoas que também sofrem e sofreram de depressão, escreveu o livro que é considerado “um dos maiores tratados já escritos sobre o tema”.
Apesar de ter tido uma infância e adolescência feliz, sem problemas de maior, Andrew Solomon depois de ter feito o seu mestrado na Inglaterra, já de novo nos Estados Unidos, estabelecido e com um início de carreira promissor, após a morte da sua mãe afunda-se numa depressão grave que o irá perseguir até aos dias de hoje.
A partir daí toda a sua vida vai se alterar por completo, entra numa depressão profunda que dura vários anos, que o torna incapaz de fazer até as mais pequenas coisas como por exemplo tomar banho, sair da cama, etc. Solomon descreve com pormenor todas as fases da sua depressão, a espiral que o leva ao fundo quase ao ponto do não retorno, descreve também a sua luta para sair dessa mesma depressão, a ajuda dos amigos, a entrega que o seu pai teve a ele, a sua relação com os psicoterapeutas e psiquiatras, até que consegue com a ajuda dos médicos e da  medicação recuperar.
Assim ele consegue manter-se estável durante uns tempos, mas ao sentir-se bem deixa a medicação e igualmente devido ao fim de um relacionamento volta a cair na depressão e a repetir todo o processo até conseguir novamente recuperar.
Toda esta parte da vida do autor é descrita por ele mesmo, com pormenor e sem qualquer pudor, pondo à luz do dia tudo o que de bem e (principalmente) de mal fez.
Após esta parte mais biográfica, Solomon entra na parte mais técnica onde vai mostrar-nos numa linguagem acessível mas onde se nota bem todo o seu estudo, investigação e conhecimento sobre a depressão.
Sendo assim ele vai abordar vários temas como a evolução da doença e o tratamento da mesma, debruçando-se sobre a medicação (é um grande defensor da utilização de fármacos para estabilizar a doença), a psicanálise, os tratamentos alternativos e a institucionalização de doentes.
Mostra-nos também o impacto da depressão nas pessoas e na sociedade, a exclusão e a incompreensão, a que os "depressivos" estão sujeitos que os pode levar a atitudes mais extremas como o suicídio e à dependência de drogas e álcool (temas sobre o quais este livro capítulos próprios).
Solomon junta a tudo isto uma profusão de entrevistas e histórias de pessoas que tal como ele sofreram e sofrem de depressão, conta-nos a suas experiências, vivências, vitórias e derrotas, histórias de vida, algumas inspiradoras e motivadoras outras de uma grande tristeza e infortúnio.
O livro termina com o capítulo acerca do futuro, as novas descobertas científicas e médicas, as novas terapias e medicação e a esperança que um dia a depressão seja curável.
Este livro é "enorme", tanto em tamanho com em qualidade, todo o texto é acompanhado por notas (o que por vezes torna a leitura um pouco mais difícil) em que o autor nos remete a trabalhos científicos, publicações de especialidade, referencias bibliográficas, enfim um sem número de ligações que provam que este livro é um enorme trabalho de investigação e de amor.
Apesar de ser grande e de ser uma mistura de livro autobiográfico com trabalho científico, adorei-o, fez-me ver a depressão com outros olhos, a compreender certos sintomas que podem não ser nada aos olhos de outros mas que nos deprimidos pode ser a diferença entre a vida e a morte e acima de tudo a não excluir os depressivos e a quem é depressivo ensina a não esconder a doença e acima de tudo pedir ajuda e a lutar pela cura.