domingo, 20 de maio de 2012

Malone Está a Morrer - Samuel Beckett



Samuel Beckett... Escritor e dramaturgo, vencedor de um Nobel, com uma história de vida fabulosa é também dos autores mais difíceis (a par de Joyce, de quem Beckett foi compatriota e discípulo) que eu já li.
A obra de Beckett é muito metafórica, estranha, vai até às profundezas do Homem, da sua condição, da sua humildade e emoção, chegando mesmo ao surreal.
Este livro, "Malone Está a Morrer", que faz parte de uma trilogia, é o exemplo perfeito da descrição que fiz da sua obra.
Temos a personagem "Malone" que se apresenta como um velho quase a morrer, e que se encontra  deitado numa cama, sozinho num quarto, sem saber aonde, nem como foi lá parar.
Ao princípio ainda ia uma mulher, também idosa mas menos que ele, levar-lhe comida, mas depois deixou de lá ir, sendo a comida entregue através de um postigo na porta.
Malone para passar o tempo, para além das suas próprias divagações vai inventar e escrever uma história num caderno que diz ter, mas que também não sabe como lhe foi parar às mãos...
Sendo assim aparece Sapocast, um jovem e a sua família.
Beckett, através de Malone vai criar uma série de situações e consegue ao mesmo tempo, intercalar de uma forma excelente as divagações de Malone com a narrativa da estória de Sapocast e sua família.
Depois de uma série de peripécias, Malone retoma a narrativa mas deixa de haver Sapocast e aparece Macmann, também um idoso que se encontra num lar/hospital psiquiátrico, onde Beckett deixa vir ao de cima a sua imaginação e o apresenta-nos mais uma série de personagens e acontecimentos surreais.
O final do livro é inconclusivo, o que leva a cada um de nós imaginar o seu fim...
O livro não é grande, mas também não é de leitura fácil, mas mostra ao mesmo tempo a inteligência e a visão da Humanidade de Beckett.



A Morte de Carlos Gardel - António Lobo Antunes


Mais um fantástico livro de António Lobo Antunes...
Seguindo o meu périplo pela leitura de Lobo Antunes, cheguei "à vez" de "A Morte de Carlos Gardel", por ventura um dos seus livros mais conhecidos (e agora ainda mais devido ao filme, que infelizmente ainda não vi).
A história inicia-se e centra-se na personagem de Nuno, um jovem toxicodependente que dá entrada num hospital em fase terminal e a partir daí a ação evolui e passa para as pessoas que a ele estão ligadas.
O pai, Álvaro que se separou da mulher quando o filho era pequeno, um homem sem ambições, "mole" e introspetivo, apenas com a sua paixão pelo tango e principalmente por Carlos Gardel, que o acompanha ao longo de toda a sua vida e que o liga ao mundo.
Claúdia, a mãe, independente, cuida do filho sozinha, tem vários casos depois de se separar Álvaro, estando na altura numa relação com Ricardo que tem a praticamente a idade do filho.
Graça, a tia, irmã de Álvaro, médica e homossexual é a (suposta) "pedra" mais forte neste conjunto de personagens, e que está junta com Cristiana, uma professora muito instável emocionalmente e ciumenta.
Para além destas há mais umas quantas personagens que também contribuem e muito para a estrutura e desenvolvimento da história.
O livro está dividido em cinco capítulos, cujos títulos são tangos famosos de Gardel e cada capítulo é a estória e visão dos acontecimentos de cada personagem. Mas Lobo Antunes como escritor genial que é, neste livro utiliza uma espécie "confrontação dos factos" em que as mesmas situações são vistas e relatadas sob a perspetiva dos diversos intervenientes, o que torna o livro ainda mais apetecível e profundo.
Lobo Antunes, também e como já fez nos seus livros anteriores, mostra-nos um Portugal "cinzento", onde as pessoas são mesquinhas, falsas, problemáticas, vivendo nos subúrbios, com falta de gosto e decadentes, ou seja o Portugal real do nosso dia a dia.
Dos vários livros que já li de António Lobo Antunes, este é dos melhores, é muito profundo e bem estruturado e comovente, vale bem a pena ler. (Entretanto fiquei muito curioso de ver o filme).

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Morte a Crédito - Louis - Ferdinand Céline


Há uns tempos li um livro deste escritor francês que muito me impressionou, esse livro é o "Viagem ao Fim da Noite". No post que fiz sobre o mesmo, falo um pouco sobre o autor e sobre toda a polémica que gira à volta do mesmo, por isso não me vou adiantar muito sobre esse assunto neste post.
Igualmente no post anterior ao falar sobre o livro referi que "... é um livro intenso, com uma leitura "pesada", com passagens fortes que mostra a condição humana na sua face mais baixa.", o mesmo se passa com este livro.
Novamente Céline vai buscar uma personagem com o nome "Ferdinand" e através do relato da sua infância, adolescência e entrada na idade adulta traça um retrato cruel e duro da França do início do séc. XX.
Céline tal como no "Viagem ao Fim da Noite" mostra-nos uma França pobre, miserável e cheia de vícios, onde a condição humana é do mais baixo que existe.A estória em si é a de Ferdinand uma criança que desde o seu nascimento se mostrou ser diferente das outras, isolado e sempre com uma tendência enorme para se meter em problemas.
Os seus pais vivem num bairro pobre, o pai empregado de escritório, com uma baixa auto-estima e que acha que todos os seus problemas advêm do filho, a mãe, comerciante de bugigangas, tem uma loja no bairro onde vivem e também corre diversas feiras para vender os seus produtos, é mais condescendente para com o filho.
Ferdinand não tem queda para a escola, só se mete em problemas, tem uma enorme falta de higiene, mas lá se vai "safando", mais tarde quando tem idade para trabalhar, vai trabalhar para um armazém, mas aí também as coisas não lhe correm muito bem e passa por diversas peripécias, mais tarde e com a ajuda do tio, vai para um colégio em Inglaterra para aprender inglês, mas aí também as coisas não lhe correm nada bem.
Regressado a França vai trabalhar com uma personagem "sui generis", um "inventor", balonista e dono de um jornal sobre invenções e ciência (em suma, um charlatão) e com ele mete-se em esquemas e enormes confusões, criando situações quase inacreditáveis de ridículas que elas são.
O livro tal como referi no início do post, apesar de ter uma linguagem "pesada" e por vezes quase "porca", mostra-nos através de Ferdinand uma visão muito irónica da classe baixa Francesa e da França em geral como só Céline conseguiu fazer.

domingo, 6 de maio de 2012

Mossad - Os Carrascos do Kidon - Eric Frattini


Eric Frattini, jornalista (foi correspondente de jornais e cadeias de televisão no Médio Oriente) e escritor cujos livros retratam vários "temas quentes", desde agências de espionagem (como no caso específico deste livro), aos meandros e mistérios da Igreja e dos Papas, e até ao Bin Laden e à Máfia, traz-nos neste livro a história, a organização e o relato/investigação de ações levadas a cabo por uma das agências de segurança mais temíveis a nível mundial, a Mossad de Israel.
Apesar de ser sobre a Mossad, este livro debruça-se mais nas ações do "Kidon", um pequeno grupo de especialistas cuja especialidade é a "eliminação física" dos inimigos de Israel.
A primeira ação realizada pela Mossad e que deu origem ao surgimento do "Kidon" seria em 1960 quando os agentes da Mossad descobrem em Buenos Aires na Argentina o nazi Adolf Eichmann, um dos principais mentores da chamada "solução final" que causou o "Holocausto" e a morte de milhões de judeus, e o conseguem raptar e trazer para Israel sendo assim julgado pelos crimes de guerra que cometeu.
A partir daqui sempre que necessário e com autorização expressa do primeiro ministro de Israel, o "Kidon"  foi utilizado para garantir a segurança do estado de Israel.
Outra das ações aqui retratadas mais conhecida e espetacular que o "Kidon" realizou foi a "caça" e "eliminação" dos terroristas que em 1972 mataram os atletas olímpicos de Israel nos jogos de Munique (esta ação foi também muito bem retratada no excelente filme de Steven Spielberg "Munique").
Para além destas duas ações muitas mais (ou pelo menos as mais conhecidas) são retratadas neste livro, desde 1960 até aos dias de hoje (ainda há bem pouco tempo instalou-se uma polémica quando agentes do "Kidon" foram descobertos no Dubai com passaportes europeus), e o leque de inimigos vai muito além dos terroristas Palestinianos, passa também por dissidentes Israelitas, cientistas (físicos nucleares) do Irão e até mesmo o polémico caso do poderoso magnata da imprensa Robert Maxwell que supostamente também foi morto pela Mossad. Os métodos utilizados também variam conforme o caso, e vão desde a morte "cara a cara" com armas de fogo, a bombas e armadilhas explosivas até à utilização mais recentemente de "UAV'S", mísseis inteligentes e helicópteros de guerra (Apache).
Quer se concorde ou não com estes métodos, temos que admitir que Israel sempre soube lutar contra os seus inimigos e uma das armas mais utilizada foi a eliminação física das pessoas que mais mal e perigo causam à integridade do estado de Israel.