quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Sul da Fronteira A Oeste do Sol - Haruki Murakami


Desta vez trago-vos mais um livro do escritor japonês Haruki Murakami. Como também já vos disse nos posts anteriores que fiz sobre outros livros dele, este é um escritor com o qual eu tenho uma relação especial, a sua forma de escrever, as suas personagens e o ambiente que ele cria nos seus livros, deixam-me completamente fascinado.
Este livro em particular - "A Sul da Fronteira A Oeste do Sol" - é um desses livros que nos prende do princípio ao fim. Apesar de não ser dos melhores dele, tem uma estória bonita e com algum mistério que se lê bastante bem.
Murakami traz-nos a estória de Hajime e Shimamoto, primeiramente como crianças na década de 50/60 do século passado e depois mais tarde como adultos.
Hajime, filho único é um rapaz com um feitio especial, tímido e com interesses diferentes do resto das crianças, o que o leva a fazer amizade com Shimamoto, uma rapariga igualmente filha única e com os mesmos interesses dele e com uma ligeira deficiência numa perna o que lhe provoca um ligeiro coxear.
Sendo assim, eles passam os dias juntos, a ler, a estudar e principalmente a ouvir música, os discos da colecção do pai de Shimamoto, onde ele descobre a música de Nat King Cole - "South of the Border West of the Sun" - que empresta o seu título a este livro.
A amizade entre eles vai aumentando e aprofundando-se à medida que eles vão crescendo, transformando-se em algo mais profundo mas que eles ainda não percebem o que é.
Infelizmente a vida dá muitas voltas e o pai de Hajime tem de mudar de local de trabalho e devido a isso leva consigo a sua família e vão viver para outra cidade.
Hajime é forçado a separar-se de Shimamoto e apesar de ao princípio ainda ir ter com ela, com o tempo vão se separando definitivamente, entretanto conhece outra rapariga e apaixona-se por ela, mas o relacionamento termina de forma abrupta. Hajime entretanto acaba o secundário e vai para a universidade em Tóquio, aí leva uma vida solitária tanto como estudante, como depois de formado.
Começa a trabalhar numa pequena editora especializada em livros escolares e tem pequenas relações com várias mulheres, mas farta-se de todas elas.
Aos 30 anos conhece Yukiko e casa-se com ela. O pai de Yukiko é um grande empreiteiro de Tóquio, com muito dinheiro e proporciona o arranque da nova vida Hajime ao oferecer-lhe um espaço num prédio construído por ele. Aí Hajime abre o seu primeiro bar de jazz, sonho antigo que ele tinha e ao longo do tempo o seu bar torna-se bastante conhecido e conceituado, tornando-o num empresário de sucesso e com uma vida familiar fabulosa.
Mas um dia Shimamoto reaparece e a partir daí toda a sua vida de Hajime dá uma volta, velhas questões reaparecem, dúvidas sobre os seus sentimentos e claro todo o mistério que envolve a vida de Shimamoto desde que se separaram e que vai interferir também na sua vida.
Naturalmente também adorei este livro, é uma estória bonita, bem construída e com algum mistério o que proporciona uma leitura agradável e empolgante.
Murakami dá um final interessante a este livro, mas que deixa muitas perguntas no ar, o que é óptimo porque o leitor pode interpretar ou imaginar o final de outra forma.

domingo, 19 de junho de 2011

Ultramarina - Malcolm Lowry


Malcolm Lowry, foi outro dos "escritores malditos", teve uma vida muito conturbada, com muitos problemas devido ao alcoolismo e apenas publicou em vida dois livros publicados, primeiro este "Ultramarina" e depois o livro pelo qual é mais conhecido "Debaixo do Vulcão". 
Lowry para além do álcool, teve outra grande paixão na sua vida, as viagens e após terminar a escola e antes de ingressar na universidade, Lowry convence o pai a deixá-lo embarcar durante um ano num navio mercante como moço de convés e criado e nele faz várias viagens ao extremo oriente, (China, Japão) e vai tirando muitas notas e apontamentos que mais tarde irão dar forma a este seu primeiro romance "Ultramarina".
"Ultramarina" é na sua essência um romance auto-biográfico, nele Lowry recria-se na personagem de Dana Hilliot, um jovem de dezoito anos que tal como ele embarca num navio mercante, o "Oedipus Tyrannus", numa espécie de viagem iniciática e de passagem à idade adulta.
Hilliot não tem vida fácil no navio, é constantemente repreendido pelos mais velhos, atrasa-se no trabalho, mas nunca desiste e faz tudo por tudo para ganhar a simpatia dos restantes tripulantes, mas principalmente do cozinheiro Andy que lhe é particularmente antipático porque acha que ele está a tirar o lugar a algum "rapaz bom" que merecia mais que ele estar no navio.
Lowry ao longo do livro vai contando as peripécias de Dana durante a viagem e durante as escalas, onde ele é gozado pelos outros tripulantes por não ir a terra divertir-se com medo de trair a namorada que deixou em Inglaterra.
Este livro para além de ser um livro de viagens, bem ao estilo de Conrad ou Kipling (autores que Lowry leu durante a sua juventude), é também como atrás disse uma viagem iniciática, onde o jovem se torna num Homem e é também uma lição de vida, onde Dana Hilliot (que tal como Lowry é oriundo de classes sociais mais altas), conhece e tem de lidar com diferentes pessoas, situações e culturas totalmente diferentes do que ele conhecia, contribuindo para a sua formação de vida para ser um adulto responsável.
Gostei bastante deste livro, lê-se muito bem e esta edição que li pertence à colecção "Não Nobel" que está a ser lançada pelo jornal "Público".

sábado, 18 de junho de 2011

The Shipping News - E. Annie Proulx


"The Shipping News" da E. Annie Proulx, é um dos livros mais bonitos que li.
Annie Proulx, famosa escritora Norte - Americana, que já ganhou vários prémio, entre eles um Pulitzer com este mesmo livro, traz-nos de uma forma simples mas bastante emocionante uma bonita estória de um homem que após uma vida de desilusão e desprezo, consegue começar do novo numa terra longe e agreste.
Quoyle, o protagonista desta estória é daquele tipo de homens, cuja vida se resume a um tremendo nada, com uma infância pouco feliz, desprezado pelo pai, deixa os estudos e vai vivendo de pequenos trabalhos e vários empregos, até arranjar emprego num pequeno jornal.
Entretanto conhece Pearl, uma rapariga bastante bonita por quem se apaixona e com quem casa, mas Pearl depressa se revela, não se interessa por ele, vive uma vida de boémia, trai-o constantemente, mas mesmo assim Quoyle ama-a incondicionalmente e tem duas filhas com ela.
Um dia, recebe uma chamada do pai a informa-lo que ele a sua mãe se vão suicidar. No dia da cremação, Quoyle também descobre que Pearl o abandona de vez e leva com ela as filhas.
A partir daí entra em desespero e ao mesmo tempo conhece a sua tia, irmã do seu pai que vem para a cremação do seu irmão.
Após estes acontecimentos todos, Quoyle (que consegue recuperar as filhas), vai com a sua tia para a "Terra Nova" no Canadá, de onde a sua família é originária para refazer a sua vida.
A acção do livro, é aqui que realmente começa, Quoyle vê-se num sítio estranho, agreste, longe e diferente de tudo o que até aí conheceu e arranja trabalho num pequeno jornal da terra.
Descobre igualmente o passado (pouco recomendado) da sua família e tem de se libertar igualmente da sua fobia à água.
Este livro como já disse, tem uma estória muito bonita, mas para além disso, também a própria descrição da paisagem, vida e sociedade das pessoas que vivem num sítio tão desolado e agreste é magistral, por vezes sentimo-nos como se estivéssemos lá, quase sentimos o vento gelado a atravessar os nossos ossos.
A estrutura do livro também está muito boa, Proulx, dividiu o livro em vários capítulos, com título e com um pequeno texto sobre um nó ou arte de marinheiro específica, o que também torna a leitura bastante interessante.
Adorei este livro, que também já foi adaptado ao cinema, tal como "O Segredo de Brockback Mountain" que também é baseado num conto dela.
Recomendo a leitura deste livro e depois ver o filme, que tem vários actores conhecidos como Kevin Spacey, Cate Blanchett, Julianne Moore e Judi dench e que está (apesar de algumas diferenças), muito fiel ao livro.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Correcções - Jonathan Franzen


Jonathan Franzen é provavelmente um dos escritores Norte-Americanos mais conhecidos e lidos dos últimos tempos.
Recentemente lançou um livro “Liberdade” que se tornou um dos maiores sucessos no universo literário mundial e que consagrou definitivamente Jonathan Franzen como um grande escritor da actualidade.
Antes de ter escrito “Liberdade”, Franzen escreveu também outro magnífico livro “Correcções” e é sobre ele que eu vou falar.
“Correcções” escrito em 2001, apesar de não ser o primeiro livro de Franzen, foi o livro que o lançou. Foi com este livro que venceu diversos prémios literários como por exemplo o “National Book Award” ou o “New York Times Best Books of the Year” e o colocou na ribalta.
Este livro conta-nos a estória de uma família: Os Lambert, os pais Alfred e Enid e os seus três filhos, o mais velho Gary, o do meio Chip e a mais nova Denise.
A acção do livro passa-se durante os anos 90 do século passado, na época aúrea dos Estados Unidos, antes da crise económica, do atentado ao World Trade Center, quando ainda existia a “nova ordem mundial” e os Estados Unidos dominavam o mundo.
Alfred, o pai, engenheiro ferroviário reformado, com a doença de Parkinson, é um homem de regras e de escrúpulos, foi sempre fiel à empresa onde trabalhou, antes dela ter sido comprada e reformulada por um grupo de investidores, foi igualmente um pai e marido rígido e impôs uma educação baseada nesses valores aos seus filhos. Agora, doente, com todos os problemas que o Parkinson lhe traz e limitado apenas à companhia da sua mulher, tenta por todos os meios fazer a vida o mais normal possível apesar das dificuldades que isso traz a Enid.
Enid, a mãe, uma típica esposa dedicada ao marido e aos filhos, vive num mundo seu, desiludida no seu íntimo pela pouca ambição do marido e por isso nunca terem enriquecido (como os seus vizinhos que apostaram na bolsa e em fundos), com os seus filhos, que não foram os filhos perfeitos que ela sempre desejou, vive em exclusivo para o seu marido e tem em mente um projecto que quer concretizar a todo o custo que é juntar a família toda num último jantar de Natal na casa onde ainda habitam e onde os seus filhos nasceram e cresceram.
Gary, o filho mais velho apesar de ser o filho mais bem sucedido na vida, banqueiro, tal como o pai, agarrado ao trabalho, foi subindo na empresa devido ao seu “faro” para os negócios e investimentos. Mas nem tudo é perfeito na sua vida, Gary tem problemas, apesar de bem casado e com três filhos, não consegue impôr em casa a disciplina e a educação que ele quer, a mulher não quer ser dona de casa, tem valores totalmente contrários aos dele e aproveita-se de uma antiga lesão nas costas para fazer “chantagem emocional” com ele, utilizando e “virando” os filhos contra ele. Somando a isto tudo há a recusa da mulher e dos filhos de irem passar o Natal com Alfred e Enid, o que vai provocar uma série de problemas e incidentes na vida do casal.
O filho do meio, Chip, é o que se pode chamar a “ovelha negra” da família, deu um grande desgosto aos pais ao seguir literatura em vez de medicina ou engenharia. Mais tarde é colocado como professor numa escola e a vida até lhe vai correndo bastante bem, até se envolver com uma estudante menor, que lhe vai destruir a sua vida e carreira. Expulso da escola, decide tornar-se escritor e vive obcecado a escrever um argumento para um filme, enquanto que para viver vai fazendo uns trabalhos para um jornal e pedindo dinheiro emprestado à irmã. Até que um dia, se vê envolvido num esquema fraudulento que o vai levar para a Lituânia dos anos 90, recém independente da U.R.S.S. e na bancarrota, dominada por mafiosos e senhores da guerra.
Por fim temos Denice a filha mais nova, que também desiludiu os pais, principalmente a mãe, deixou de estudar, e começou a trabalhar num restaurante onde aprendeu e tornou-se uma chef. Entretanto casou-se com o dono do restaurante, um homem bastante mais velho que ela e judeu, mas o casamento dura pouco e ela vai trabalhar para outro restaurante, mais tarde conhece Brian, um programador informático que ficou rico devido a um programa por ele inventado e que constrói um restaurante de propósito para Denise administrar.
Através de Brian, Denise conhece também a sua família, principalmente a sua mulher Robin, que vai alterar a sua vida de vez.
Após Franzen nos ter dado a conhecer a família Lambert, um por um, vai acontecer uma situação na vida deles, relacionada com Alfred, e que por fim os vai juntar num último Natal e que vai servir para além de reunião de família, também de expiação a todos eles.
O que torna este livro tão bom, não é a estória particular de Lambert, mas sim o retrato social dos Estados Unidos que Lambert nos faz através dela.
Para além do normal confronto de gerações entre pais e filhos, temos também o próprio confronto de valores e morais entre as gerações mais próximas, o desmoronar do ideal de família Norte-Americano, em que os filhos seguiam as pisadas dos pais e tornavam-se também bons pais/mães de família, dedicados ao trabalho e ás famílias. Mostra também o “boom” tecnológico que se deu nos anos 90, a internet, os computadores, fortunas que se criaram de repente devido a isso e também da nova forma de fazer dinheiro através dessas novas tecnologias, a especulação, a bolsa, os fundos, a informação on-line que permite estar constamente a fazer negócios e também as vigarices e esquemas que acabaram por rebentar, originando a crise que depois nos afectou (e continua a afectar) a todos.
De facto é um livro magistral que nos prende do princípio ao fim, e que mereceu todos os prémios que recebeu.
Entretanto também já tenho o “Liberdade” e estou desejoso de o ler.