quinta-feira, 14 de maio de 2009

As Benevolentes - Jonathan Littell


Boas, sei que há muito não vinha cá ao "O Que eu leio", mas como expliquei no Pipasblog a minha vida profissional deu uma grande volta e infelizmente estou muitas vezes ausente de casa e sem acesso à internet, até mesmo as minhas leituras foram reduzidas um pouco, evidentemente que não deixei de ler e nestes meses li vários livros bastantes interessantes que com pena minha não os comentei aqui no blog.
Entretanto consegui este pouco de tempo livre e decidi pôr aqui um post sobre um livro que terminei de ler recentemente e que muito me impressionou.
O livro chama-se "As Benevolentes" do escritor Norte-Americano (mas radicado em França, aliás o livro foi escrito em francês e não em inglês), Jonathan Littell.
Littell com este grande livro, tanto em tamanho como em qualidade conta-nos através das memórias de um ex oficial das SS alemão, Maximilien Aue, filho de pai alemão e mãe francesa que tem uma infância conturbada, e uma estranha relação com a irmã. Tudo isto vai moldar a sua personalidade e torna-lo numa pessoa bastante instável e com uma sexualidade fora do normal.
É através de Aue e da sua intervenção na guerra que Littell nos dá a conhecer o lado e a perspectiva alemã da guerra, principalmente a guerra na frente Leste, nomeadamente na Ucrania e depois no cerco de Estalinegrado, onde ele descreve com uma exactidão todo o sofrimento e desgraça que se abateu sobre os soldados e população civil, numa das batalhas mais terríveis e sangrentas da II Guerra Mundial, a descrição da vida dos soldados, o frio intenso, a falta de condições as doenças, os mortos, os mutilados, posso dizer que são das páginas mais violentas que li até hoje.
Após ser ferido e regressar a Berlim, Aue (que é formado em direito e jurista), é colocado a trabalhar junto a nomes sonantes da "Solução Final" para o problema dos judeus, trabalha com Himmler; Eichmann e Speer entre outros. Nesta parte do livro, Littell debruça-se sobre os judeus, os campos de concentração, descrevendo os mesmos e com bastante pormenor a brutalidade do tratamento que era dado aos judeus.
Com o aproximar do fim da guerra, e a iminente invasão por parte dos soviéticos, a loucura alemã desses dias foi levada ao extremo afectando igualmente Aue, levando ao final do livro e a sua respectiva fuga.
Este livro como atrás referi é de uma enorme qualidade, recebendo o seu autor dois dos maiores prémios literários franceses, o Goncourt e o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa. Apesar disso é um livro que lançou uma enorme polémica, sendo até mal recebido por muita gente e críticos. A meu ver é excelente, talvez dos mais violentos que li até hoje, tanto emocionalmente como psicológica e fisicamente, tem passagens muito "pesadas", descrições terríveis e pormenorizadas, mostra até onde o Homem pode chegar, tornar-se numa "besta", um "monstro" que consegue dizimar milhões de outros seres humanos em nome de um ideal, de uma política e da loucura de um ou alguns homens.
Para mim a parte negativa deste livro (mas que compreende-se que assim seja), são as inúmeras designações em alemão, tanto dos postos dos soldados, das repartições, ministérios, serviços, etc, etc, que obriga a uma constante busca no glossário que vem no fim do livro.
Para quem o queira ler, sugiro que o leia com um estado de espírito livre e com força de vontade porque não é um livro facil de ler devido às razões atrás referidas e às suas 884 páginas.
Espero que gostem, abraço
Pipas

8 comentários:

Catarina Garcia disse...

Fiquei com muita vontade de o ler!
Continua a escrever por cá, sempre que puderes.

J. Maldonado disse...

A temática é bastante interessante. Hei-de lê-lo um dia desses...

- disse...

Pois, não comentaste as tuas outras leituras aqui no blog, mas ainda estás a tempo, não?

Curioso que o autor não escreva na sua língua materna. Gostava de saber o que o leva a isso...

Gosto da tua descrição, no entanto apelas à nossa curiosidade sobre o sofrimento alheio. Talvez seja essa a fórmula do livro. O tema do Holocausto interessa-me. Talvez seja um livro a ler no futuro, mas como sabes, muito tempo que me ocupe de momento e só daqui a um ano, talvez dois, terei mais tempo para ler com maior disponibilidade mental e de tempo.

Dizes que foi mal recebido pelos críticos mas não dizes porquê...Poderás explicar-me isso?

E sobre as designações, lol ao menos tem um glossário :DD

PS: quantidade de páginas não assustam quem gosta de ler.

bjufas marujo

susemad disse...

Uma excelente crítica ao livro! 884 páginas é muita página, mas mesmo assim deixaste-me com a curiosidade em o ler. Vou anotar.

Paula disse...

Deve ser um livro muito interessante. Gostei do teu comentário!
Já o vi nas livrarias, mas confesso que devido ao seu tamanho não o comprei.
Continuação de boas leituras!

JG disse...

É o livro que estou a ler desde há uma semana e vou a mais de meio, apesar do esforço exigido para o segurar nas leituras de cama. Não conseguem fazer livros grandes mais pequenos e leves? Lê-se muito bem, porque está muito bem "esgalhado", sendo o primeiro livro, não sei onde foi o homem buscar tanto saber de ofício. Mas desilude, e muito, por duas razões: primeiro porque é excessivo no pormenor para ser credível - embora ganhe do ponto de vista do entretenimento -, segundo porque o personagem principal com a sua homosexualidade e aquela paixão incestuosa pela mana acaba por se tornar também bastante um retrato já demasiado visto. Mas se calhar tem a ver com as expectativas que criei a partir de algumas criticas que li, onde o livro era apresentado como explicando as razões porque os alemães se deixaram arrastar pela figura do maestro de bigode: pelo que li até agora, vou na página quinhentos e tal, foi um pouco pelas retaliações contra a Alemanha depois da primeira guerra, mas sobretudo porque o pai se foi embora e a mãe não ficou à espera que regressasse. É triste, sim, é. Portanto, nada de novo, mas bom para a musculatura e com capacidade para se fazer devorar em período de férias. Não estou arrependido e logo vou continuar a ler, mas um BOM livro? Ná!

Carlos Faria disse...

Já o li há vários anos, mas está entre os melhores livros escritos no século XXI que li e também muito colocado em todos os que já li.

Seve disse...

A maior pastilha que "tomei" nos últimos anos, não sei como mas consegui chegar à página 200, um autêntico sacrifício (à data -2010). Uma "estucha" de caixão à cova!