segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Povo que Lavas no Rio - Pedro Homem de Mello


Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
O beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
A água pura, puro agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de luz e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Os Nus e os Mortos - Norman Mailer


"... estamos perante um fresco de violência, é certo, um fresco de carne violentada, mas onde domina sobretudo o tormento da alma, a razão de consciência."
Com esta frase, José Cardoso Pires no prepácio que fez para a primeira edição desta obra em Portugal (Ulisseia 1958), resume de uma forma excelente o cerne e o conteúdo deste livro.
Os Nus e os Mortos, o primeiro romance do famoso escritor Norte-Americano Norman Mailer, descreve (baseado nas suas próprias experiências de guerra) as aventuras e desventuras, os conflitos, as amizades, inamizades, as suas lutas interiores, os seus carácteres, fraquezas e coragens de um grupo de soldados Norte-Americanos, pertencentes ao mesmo pelotão.
A história começa com a invasão de uma ilha do Pacífico Sul ocupada pelos Japoneses pelo exército americano e a partir daí é uma profusão e um crescendo de acontecimentos e emoções até ao clímax da acção.
O pelotão de reconhecimento onde pertencem estes soldados, está fragmentado e incompleto devido à campanha anterior onde morreram uma série de soldados pertencentes ao mesmo, sendo reforçado com alguns soldados novos, logo aí inicia-se o primeiro ponto de discórdia e conflito, entre os novos elementos e os veteranos. Após a invasão da ilha o pelotão é colocado na retaguarda, fazendo trabalhos "menores", como a construção de uma estrada ou a descarga de materiais diversos, o que provoca um mau estar e um estado de ansiedade. Paralelamente a isto, existe também a visão dos oficiais, onde temos o general, comandante geral da invasão, soldado de carreira, muito inteligente e marcial, com uma visão do mundo e da guerra muito rígida e recta, mas depois em oposição temos o seu ajudante, um jovem tenente, idealista, liberal e com ideias de esquerda, oriundo de uma grande família industrial. Este choque de ideias e pensamentos, vai provocar uma guerra surda entre o general e o tenente, deixando aflorar ódios e cinismos na relação entre cada um deles.
Com o andamento da invasão, e após um grave desentendimento entre eles, onde a disciplina e a conduta do tenente é posta à prova, é entregue o comando do pelotão ao tenente e são enviados numa missão atrás das linhas japonesas.
A partir daqui, todo o pelotão é posto à prova, toda a sua força, coragem, emoções e resistência são testados, os ódios antigos entre cada soldado vêm ao de cima, a carga emocional vai crescendo à medida que se vão infiltrando no interior da ilha e os acontecimentos vão se sucedendo numa escalada imensa, até se chegar ao ponto de ruptura emocional e físico de um ser humano.
Para além de toda a acção passada na guerra, os combates contra os japoneses, o combate contra a própria ilha, contra o clima, contra a exaustão, Norman Mailer utiliza intervalado na acção decorrente flashbacks do passado das várias personagens e assim de certa forma conta a História dos Estados Unidos da América durante as décadas de 20; 30 e 40 do séc. XX, fazendo igualmente uma crítica social às diversas classes sociais, desde os mais pobres aos mais ricos.
Aborda também na relação entre os soldados, o anti-semitismo que existia igualmente no exército e no pensamento americano.
Este livro é muito intenso, pesado, e por vezes cruel, descreve as relações humanas levadas ao seu máximo, a resistência física e moral de cada pessoa, as suas virtudes e os seus podres, mas faz-nos pensar também naquilo que realmente somos, na hipocrisia que está dentro de nós sem sabermos e no que nos poderemos tornar em situações de extremos como são as que acontecem no livro, será que somos Homens ou Monstros?
A edição que li é a mais recente, editada pela D. Quixote, que é igulamente a edição comemorativa dos 60 anos da obra (1948-2008), vem numa caixa, é a versão integral da obra e traz igualmente como referi no início do post o prepácio que José Cardoso Pires escreveu para a primeira edição portuguesa e uma introdução do próprio Norman Mailer que escreveu para a edição comemorativa dos 50 anos.
Há muito tempo que um livro não me "impressionava" tanto como este, a prova disso é o tempo que o demorei a ler, quase um mês!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal a todos

Deixo aqui os meus votos de um Grande e Feliz Natal a todos os visitam este meu/vosso blog, na companhia de quem mais gostam. Que tudo corra bem e já agora com o sapatinho cheio de prendas.
Deixo uma sugestão literária, tanto para lerem vocês próprios, como para oferecerem a alguém como prenda, naturalmente respeitando o espírito da época.
O livro em questão não podia ser outro sem ser o inegualável "Conto de Natal" do grande Charles Dickens, esse grande escritor do séc. XIX com a sua visão única e crítica da época na Inglaterra Vitoriana.
Mesmo quem nunca leu o livro, de certeza que conhece a história do velho e avarento Scrooge que recebe a visita dos três fantasmas na noite de Natal...
Uma linda estória que traz também um grande ensinamento por trás!
Mais uma vez a todos um Feliz Natal
Pipas

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Numb - Linkin Park


I'm tired of being what you want me to be
Feeling so faithless
Lost under the surface
Don't know what you're expecting of me
Put it under the pressure
Of walking in your shoes
Caught in the undertow, just caught in the undertow
Every step that I take is another mistake to you
Caught in the undertow, just caught in the undertow

I've
Become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
And becoming this
All i want to do
Is be more like me
And be less like you

Can't you see that you're smothering me
Holding too tightly
Afraid to lose control
Cause everything that you thought I would be
is fallin apart right in front of you

Caught in the undertow, just caught in the undertow
Every step that i take is another mistake to you
Caught in the undertow, just caught in the undertow
And every second i waste is more than I can take

I've
Become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
And becoming this
All i want to do
Is be more like me
And be less like you

And I know
I may end up failing too
But I know
You are just like me
With someone disappointed in you

I've
Become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
And becoming this
All i want to do
is be more like me
And be less like you

I've
Become so numb
I can't feel you there
(I'm tired of being what you want me to be)
I've
Become so numb
I can' t feel you there
(I'm Tired of being what you want me to be)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Minha Mulher - Anton Tchekov


A Minha Mulher, é um conto do escritor Russo Anton Tchekov, muito conhecido pelas suas histórias curtas (como é o caso desta), mas principalmente pelas várias peças de teatro maravilhosas que escreveu como a Gaivota ou o Tio Vânia.
Neste pequeno livro livro, tendo como base uma grave fome que alastra numa aldeia de camponeses na Rússia, Tchekov aborda um casamento fracassado, as suas causas e efeitos.
Pavel Anndreievitch, um alto funcionário público russo reformado, ao saber desta crise perto da zona onde habita, decide tomar a seu cargo a ajuda a esses pobres camponeses, para isso tenta criar uma espécie de comissão entre os ricos e poderosos da área para resolver esse problema.
Quando começa a coordenar as acções, descobre que a sua mulher, muito mais nova, bonita e com um carácter forte, mas com quem practicamente não tem relações nenhumas e as que tem são conturbadas, chegando inclusivé a viver em partes separadas da casa, já lhe tinha tomado a dianteira reunindo um grupo de pessoas à sua volta para isso.
A partir desta situação Tchekov começa a mostrar-nos o verdadeiro Pavel que é uma pessoa muito egoísta, metódica e com quem é difícil manter relações de amizade, mas que através da sua mulher e da descoberta do amor que ainda nutre por ela e juntamente com uma série de situações onde ele se apercebe do seu verdadeiro carácter, começa a descobrir-se a si próprio e a ter percepção do que a sua vida verdadeiramente é, uma vida de solidão.
Este pequeno livro, é uma lição de vida, mostra-nos como uma pessoa mesmo inconscientemente e com as mais nobres intenções, consegue prejudicar a vida dos outros e a sua felicidade.
Este livro, na edição original da Quasi e na versão distribuida pelo Diário de Notícias, tem também a particulariedade de ter sido traduzido pelo Luiz Pacheco, o que dá também um toque de ironia, como só ele conseguia fazer, sem nunca fugir ao original.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

António Alçada Baptista

Faleceu ontem aos 81 anos de idade, o escritor e jornalista António Alçada Baptista.
António Alçada Baptista, nascido na Covilhã e licenciado em Direito, foi um grande pensador e escritor, que deixou várias obras de grande qualidade tanto na área do Ensaio como no romance.
Considerando-se a si próprio como "escritor de afectos" e "com uma sensibilidade feminina", traços que são bastante evidente nas suas obras, foi igualmente um defensor da liberdade e dos direitos dos Homens.
As suas obras mais conhecidas são provavelmente as Peregrinação do Interior I - Reflexões sobre Deus e Peregrinação do Interior II - O Anjo da Esperança, obras estas que lhe valeram a sua consagração perante o público e a crítica.
Para além da literatura também esteve envolvido na política, foi presidente do Instituto Português do Livro e um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo.
Foi ainda agraciado com várias condecorações e prémios nacionais e estrangeiros.
Com este desaparecimento de Alçada Baptista, a cultura e a literatura portuguesa ficam de facto mais pobres.
Uma grande perda para todos nós.

A Herança de Eszter - Sándor Márai


Já que ando numa de livros pequenos em tamanho mas grandes em qualidade, aqui fica outro que li a seguir ao A Morte de Ivan Ilitch que se enquadra nessa categoria:
A Herança de Eszter - de Sándor Márai.
Sándor Márai, escritor húngaro de quem já falei aqui sobre outro livro que li dele, Rebeldes, traz-nos esta pequena história de um amor mal resolvido e de uma separação de mais de 20 anos.
Eszter, apaixonada por Lajos, um homem sem escrúpulos, vigarista, ambicioso e mentiroso, que casou com a irmã mais velha dela, está há mais de 20 anos sem o ver e sem ter notícias dele, vivendo pacatamente na sua casa de família apenas com uma tia mais velha como companhia, até ao dia em que recebe um telegrama a avisa-la da chegada de Lajos.
A partir daí vem ao de cima todo um conjunto de emoções, dúvidas e certezas acerca do seu amor por lajos e por tudo o que passou nesses 20 anos devido a ele.
Com a chegada de Lajos, com os seus filhos e mais dois estranhos acompanhantes inicia-se um desfilar de conversas, de situações contraditórias, desabafos, descobertas surpreendentes e outras mentiras, terminando com a "queda" de Eszter nas "garras" de Lajos sendo enganada novamente, embora com plena consciência e permissão dela para isso, apesar dos avisos dos amigos mais chegados.
Sándor Márai com este livro fala-nos do amor, do destino, das leis da vida e da nossa força ou fraqueza perante essas forças que se juntam ou separam transformando a nossa vida de várias formas.
Mais um dos livros que recomendo a sua leitura, pequeno, com uma escrita simples mas também muito directa.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A Morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstoi


Terminei de ler este pequeno livro em tamanho mas grande em qualidade que é A Morte de Ivan Ilitch do grande escritor Russo Lev Tolstoi.
Tolstoi com esta pequena história, muito directa, simples e sem rodeios, traz-nos a temática da morte e a forma como a aceitamos ou não e a sua implicação perante tudo, desde quem morre às pessoas que as rodeiam e que com ela (morte), poderão beneficiar ou não e as implicações que isso traz para o resto das suas vidas.
Ivan Ilitch, juiz que sempre teve uma vida "boa" e sem problemas, apesar do seu relacionamento conturbado com a sua esposa, adoece e começa lentamente a afundar-se nesse estado que vai aumentando lentamente de dia para dia, começando inicialmente por interferir com o normal desempenho da sua vida profissional e pessoal, e aumentado até culminar com a sua morte.
No periodo em que ele já se encontra em casa e impossibilitado de sair da mesma devido à doença, Ivan Ilitch faz uma regressão e análise profunda do que foi a sua vida e o significado da mesma, todas as suas acções, boas ou más, o seu casamento, a relação nada fácil com a esposa, os filhos, etc..
Este livro está considerado como um dos melhores da literatura mundial, gostei bastante de o ler, pequeno mas com uma escrita muito directa, por vezes crua que nos faz pensar "como será a nossa vez?" e "qual será realmente o nosso sentido de vida?".
Li a edição Booket da Dom Quixote, que para além de ser acessível à bolsa traz um prefácio de António Lobo Antunes, em que ele diz: "(…) não há sentimento que nele não figure, não há emoção que não esteja presente. Tudo o que somos se acha em poucas páginas, escrito de uma forma magistral".
Esta frase resume todo o livro.
Espero que gostem.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Expiação - Ian McEwan


Com este post, provavelmente irei contra a corrente em relação a este livro. Mas como este blog não é de crítica literária mas sim onde deixo a minha opinião sobre os livros que leio, vou ser sincero, como sempre sou mesmo que vá "contra a corrente".
Este livro, criou-me muitas expectativas, muita gente me disse bem dele, o filme baseado nele fez um sucesso estrondoso e eu próprio que já tinha lido outras coisas de Ian McEwan e tinha gostado, por isso tudo prometia que ia ser igual com este livro.
Mas para mim este livro foi uma desilusão!
Talvez por ter ouvido tanto sobre ele, tenha criado uma imagem na minha cabeça e depois de o ler, essa realidade fica muito aquém daquilo que esperava.
O livro estruturalmente está muito bom, o Ian McEwan é um óptimo escritor, com provas dadas e a história até tem muito potencial...
O problema é que na minha opinião (e desculpem a expressão) este livro está demasiado "lamechas"!
Tudo bem que a história talvez a isso obrigue, é uma história de amor, separação, intriga e arrependimento, mas na minha humilde opinião ele perde muito tempo na narrativa, na descrição de sentimentos e até mesmo de lugares.
A primeira parte do livro, onde eles ainda são todos jovens e onde se dá o "acontecimento" que é o mote da história, é muito maçudo. Por um lado é interessante a parte dos mesmos acontecimentos serem vistos pelos pontos de vista dos diferentes intervenientes mas ao mesmo tempo isso torna-se um pouco repetitivo e é também a meu ver a parte onde ele se deixa levar mais pela descrição sentimental e amorosa.
A segunda parte anos mais tarde e passada durante a 2ª Guerra Mundial, mais propriamente na retirada de França, já está melhor mas podia ter sido mais bem explorada a nível de acção, claro que este não é um livro de guerra, mas esse cenário podia ter sido mais aproveitado.
A terceira parte, para mim ainda é a melhor, gostei da descrição dos hospitais e da chegada dos feridos de França e da vida na Londres dessa época.
No geral o livro é bom, tem qualidade e não lhe nego esses atributos, talvez a culpa não seja do livro mas minha, por não ligar muito a essa temática do sentimental e emocional a nível do amor entre duas pessoas.
Por vezes parecia que estava a ler uma "tragédia grega".

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Da Condição Humana - Ary dos Santos


Todos sofremos.
O mesmo ferro oculto
Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta
O mesmo sal nos queima os olhos vivos.
Em todos dorme
A humanidade que nos foi imposta.
Onde nos encontramos, divergimos.
É por sermos iguais que nos esquecemos
Que foi do mesmo sangue,
Que foi do mesmo ventre que surgimos.

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'