sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Os Prazeres e as Sombras - Ballester





Durante as últimas arrumações que de vez em quando faço nos livros que tenho no meu escritório/biblioteca na minha casa, fixei o meu olhar nos três volumes de "Os Prazeres e as Sombras" de Gonzalo Torrente Ballester e decidi voltar a relê-los.
Li esta obra se não me engano por volta de 1999 quando vivi na ilha do Faial nos Açores.
Nessa altura tinha então vinte e poucos anos, e adorei ler essa história, chegando mesmo a marcar-me. Agora passados quase dez anos voltei a reler esses livros, com mais maturidade e experiencia de vida, tendo com isso apreciado ainda mais a história e tudo o que ela nos transmite.
“Os Prazeres e as Sombras”, estão divididos em três livros: “Aí Vem o Senhor”; “Onde os Ventos Mudam” e “A Páscoa Triste” e retratam a vida numa pequena cidade da Galiza nos anos trinta do séc. XX imediatamente antes da guerra civil que tanto infortúnio trouxe a Espanha.
A acção inicia-se com a chegada de Carlos Deza, o último dos Chuchurraos, família de descendencia nobre que detinha o poder na cidade de Publanueva del Conde desde sempre mas que agora se encontra em decadencia. O poder é agora exercido pela família Cayetano donos do grande estaleiro que emprega a quase totalidade das pessoas da cidade.
Originários das classes baixas, do “povo” os Cayetanos conseguiram construir a fortuna a seu custo, com a criação e evolução do estaleiro, sendo por isso inimigos declarados dos Chuchurraos que apenas herdaram as riquezas e o poder dos antepassados.
Com a chegada de Carlos Deza, que tinha saido de Pueblanueva muito novo, e entretanto formado em psicologia na Austria, com Freud, cria-se um clima de expectativa e de guerra surda entre as familias, seus apoiantes e o que elas representam.
Por um lado temos o filho Cayetano, o todo-poderoso da cidade, o mais rico, mais cobiçado pelas mulheres e com um numeroso grupo de “bajuladores” e “alcoviteiros”, sempre prontos a estarem do seu lado se isso lhes trouxer benefícios. E do outro lado Carlos Deza, pouco interessado na vida da cidade e das suas “guerras”, mas incitado e apoiado pela D. Mariana a segunda pessoa mais rica da cidade e dona dos barcos de pesca que ainda não estão debaixo da alçada de Cayetano.
Intervém também uma mulher (Clara Aldán) que se interpõe entre ambos e que vai ser a responsável da mudança definitiva que irá acontecer na vida de todos no final.
Ao longo de cerca de dois anos, inúmeros acontecimentos irão perturbar, interferir e alterar a vida da cidade e dos seus habitantes contribuindo para a grande diversidade da história.
Esta obra, traz-nos um grande leque de personagens, com uma grande complexidade emocional e psicológica, explorada ao máximo, retratando as suas paixões, os seus medos, o seu íntimo e as suas guerras interiores, de uma forma fenomenal, intensa e séria, que nos prende à leitura até à última página do último livro.
Para além de toda a complexidade com os personagens, Ballester também descreve uma época da história de Espanha muito conturbada, onde uma sociedade muito agarrada às suas tradições ainda “feudais”, tenta passar e adaptar-se a uma modernidade, tanto social como política.
Foi a época da República, do socialismo, do anarquismo, das lutas contra igreja e que culminaram com a guerra civil e com a ditadura de Franco.
Aborda também questões de temática religiosa e a visão da mesma por várias perspectivas, tanto dentro da igreja, como fora dela.
Esta obra está considerada uma das obras-primas da literatura do séc. XX e trouxe toda a mestria, conhecimento e sensibilidade de Ballester ao de cima.
Foi igualmente adaptada como uma série de TV em Espanha.
Já li muitos livros, mas nunca nenhum que me apaixonasse tanto como este(s). São três livros que rondam as 400 páginas cada, mas de uma leitura suave e envolvente, faz-nos entrar dentro da história, de uma forma tal que é um custo parar de ler.
Para quem não tenha medo de ler, este livro(s) é o que eu mais aconselho a ler a toda a gente.
Fiquem bem.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Livro das Ilusões

Paul Auster, um dos melhores escritores Norte - Americanos da actualidade, consegue com esta obra, trazer ao leitor várias histórias dentro do mesmo livro.
Começa com a história de David Zimmer, personagem que serve como fio condutor e elo de ligação das diversas histórias que se cruzam dentro da história principal.
Zimmer, professor universitário perde a mulher e os filhos num acidente de avião e devido a isso cai numa depressão profunda e na bebida. Mas certo dia, descobre através de um programa de televisão Hector Mann, antigo actor cómico do cinema mudo, que desapareceu misteriosamente em 1929, sem que nunca se descobrisse o que lhe terá acontecido e decide escrever um livro sobre a vida dele.
Através da investigação da vida de Hector e a respectiva escrita do livro, Zimmer aos poucos vai sainda da depressão e voltando a uma aparente normalidade. Após da publicação do livro sobre Hector, decide aceitar fazer a tradução de "Memórias do Túmulo" do escritor francês Chateaubriand. Para melhor se dedicar a essa tarefa, compra uma propriedade num local remoto para se isolar e concentrar na tarefa.
De repente tudo muda, Zimmer começa a receber umas cartas, aparentemente da esposa de Hector Mann que lhe diz que ele está vivo,leu o livro e lhe quer falar.
Ao princípio Zimmer pensa que é uma brincadeira e não liga até que recebe a visita de uma misteriosa rapariga, determinada a levá-lo até Hector Mann...
A partir daqui toda a acção se desenrola com a descrição da extraordinária história da vida de Hector Mann, uma história fantástica e extraordinária, uma autentica lição de vida.
Com este livro, Paul Auster para além da beleza da história e da sua escrita, transporta-nos também para o universo do cinema, primeiramente o do cinema mudo e depois para o do cinema em geral, mostrando-nos a sua técnica, produção e forma de construir filmes.
Dentro deste livro temos também a história que deu origem ao filme "A Vida interior de Martin Frost", que já fiz referencia no Pipasblog.
Dos livros de Paul Auster que já li, este a par de "As Loucuras de Brooklyn", é dos melhores e dos mais belos.
Recomendo a sua leitura a todos.

domingo, 7 de setembro de 2008

As Fotos do Fogo

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

A guerra deu na tv
foi na retrospectiva
corpo dormente em carne viva
revi p´ra mim o cheio aceso
dos sítios tão remotos
e do corpo ileso
vou-te mostrar as fotos
olha o meu corpo ileso

Olha esta foto, eu aqui
era novo e inocente
"às suas ordens, meu tenente!"
E assim me vi no breu do mato
altivo e folgazão
ou para ser mais exacto
saudoso de outro chão
não se vê no retrato

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

Nesta outra foto, é manhã
olha o nosso sorriso
noite acabou sem ser preciso
sair dos sonhos de outras camas
para empunhar o cospe-fogo e o lança-chamas
estás são e salvo e logo
"viver é bom", proclamas

Eu nesta, não fiquei bem
estou a olhar para o lado
tinham-me dito: eh soldado!
É dia de incendiar aldeias
baralha e volta a dar
o que tiveres de ideias
e tudo o que arder, queimar!
no fogo assim te estreias

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

Nesta outra foto, não vou
dar descanso aos teus olhos
não se distinguem os detalhes
mas nota o meu olhar, cintila
atrás da cor do sangue
vou seguindo em fila
e atrás da cor do sangue
soldado não vacila

O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terremotos
costumam desfocar as formas
matamos, chacinamos
violamos, oh, mas
será que não violamos
as ordens e as normas?

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

Álbum das fotos fechado
volto a ser quem não era
como a memória, a primavera
rebenta em flores impensadas
num livro as amassamos
logo após cortadas
já foi há muitos anos
e ainda as mãos geladas

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
quando a recordo
sei que quase logo acordo
a morte dorme parada
nesta morada

Sérgio Godinho

sábado, 6 de setembro de 2008

As manhãs


Das manhãs

Apenas levarei a tua voz

Despovoada

Sem promessas
sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs E madrugadas

Daniel Faria

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sem net...

Devido a problemas que me ultrapassam, encontro-me sem net.
Assim que tiver o problema resolvido, volto ao trabalho.
Até lá... Fiquem bem
Pipas