segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Povo que Lavas no Rio - Pedro Homem de Mello


Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
O beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
A água pura, puro agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de luz e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Os Nus e os Mortos - Norman Mailer


"... estamos perante um fresco de violência, é certo, um fresco de carne violentada, mas onde domina sobretudo o tormento da alma, a razão de consciência."
Com esta frase, José Cardoso Pires no prepácio que fez para a primeira edição desta obra em Portugal (Ulisseia 1958), resume de uma forma excelente o cerne e o conteúdo deste livro.
Os Nus e os Mortos, o primeiro romance do famoso escritor Norte-Americano Norman Mailer, descreve (baseado nas suas próprias experiências de guerra) as aventuras e desventuras, os conflitos, as amizades, inamizades, as suas lutas interiores, os seus carácteres, fraquezas e coragens de um grupo de soldados Norte-Americanos, pertencentes ao mesmo pelotão.
A história começa com a invasão de uma ilha do Pacífico Sul ocupada pelos Japoneses pelo exército americano e a partir daí é uma profusão e um crescendo de acontecimentos e emoções até ao clímax da acção.
O pelotão de reconhecimento onde pertencem estes soldados, está fragmentado e incompleto devido à campanha anterior onde morreram uma série de soldados pertencentes ao mesmo, sendo reforçado com alguns soldados novos, logo aí inicia-se o primeiro ponto de discórdia e conflito, entre os novos elementos e os veteranos. Após a invasão da ilha o pelotão é colocado na retaguarda, fazendo trabalhos "menores", como a construção de uma estrada ou a descarga de materiais diversos, o que provoca um mau estar e um estado de ansiedade. Paralelamente a isto, existe também a visão dos oficiais, onde temos o general, comandante geral da invasão, soldado de carreira, muito inteligente e marcial, com uma visão do mundo e da guerra muito rígida e recta, mas depois em oposição temos o seu ajudante, um jovem tenente, idealista, liberal e com ideias de esquerda, oriundo de uma grande família industrial. Este choque de ideias e pensamentos, vai provocar uma guerra surda entre o general e o tenente, deixando aflorar ódios e cinismos na relação entre cada um deles.
Com o andamento da invasão, e após um grave desentendimento entre eles, onde a disciplina e a conduta do tenente é posta à prova, é entregue o comando do pelotão ao tenente e são enviados numa missão atrás das linhas japonesas.
A partir daqui, todo o pelotão é posto à prova, toda a sua força, coragem, emoções e resistência são testados, os ódios antigos entre cada soldado vêm ao de cima, a carga emocional vai crescendo à medida que se vão infiltrando no interior da ilha e os acontecimentos vão se sucedendo numa escalada imensa, até se chegar ao ponto de ruptura emocional e físico de um ser humano.
Para além de toda a acção passada na guerra, os combates contra os japoneses, o combate contra a própria ilha, contra o clima, contra a exaustão, Norman Mailer utiliza intervalado na acção decorrente flashbacks do passado das várias personagens e assim de certa forma conta a História dos Estados Unidos da América durante as décadas de 20; 30 e 40 do séc. XX, fazendo igualmente uma crítica social às diversas classes sociais, desde os mais pobres aos mais ricos.
Aborda também na relação entre os soldados, o anti-semitismo que existia igualmente no exército e no pensamento americano.
Este livro é muito intenso, pesado, e por vezes cruel, descreve as relações humanas levadas ao seu máximo, a resistência física e moral de cada pessoa, as suas virtudes e os seus podres, mas faz-nos pensar também naquilo que realmente somos, na hipocrisia que está dentro de nós sem sabermos e no que nos poderemos tornar em situações de extremos como são as que acontecem no livro, será que somos Homens ou Monstros?
A edição que li é a mais recente, editada pela D. Quixote, que é igulamente a edição comemorativa dos 60 anos da obra (1948-2008), vem numa caixa, é a versão integral da obra e traz igualmente como referi no início do post o prepácio que José Cardoso Pires escreveu para a primeira edição portuguesa e uma introdução do próprio Norman Mailer que escreveu para a edição comemorativa dos 50 anos.
Há muito tempo que um livro não me "impressionava" tanto como este, a prova disso é o tempo que o demorei a ler, quase um mês!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal a todos

Deixo aqui os meus votos de um Grande e Feliz Natal a todos os visitam este meu/vosso blog, na companhia de quem mais gostam. Que tudo corra bem e já agora com o sapatinho cheio de prendas.
Deixo uma sugestão literária, tanto para lerem vocês próprios, como para oferecerem a alguém como prenda, naturalmente respeitando o espírito da época.
O livro em questão não podia ser outro sem ser o inegualável "Conto de Natal" do grande Charles Dickens, esse grande escritor do séc. XIX com a sua visão única e crítica da época na Inglaterra Vitoriana.
Mesmo quem nunca leu o livro, de certeza que conhece a história do velho e avarento Scrooge que recebe a visita dos três fantasmas na noite de Natal...
Uma linda estória que traz também um grande ensinamento por trás!
Mais uma vez a todos um Feliz Natal
Pipas

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Numb - Linkin Park


I'm tired of being what you want me to be
Feeling so faithless
Lost under the surface
Don't know what you're expecting of me
Put it under the pressure
Of walking in your shoes
Caught in the undertow, just caught in the undertow
Every step that I take is another mistake to you
Caught in the undertow, just caught in the undertow

I've
Become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
And becoming this
All i want to do
Is be more like me
And be less like you

Can't you see that you're smothering me
Holding too tightly
Afraid to lose control
Cause everything that you thought I would be
is fallin apart right in front of you

Caught in the undertow, just caught in the undertow
Every step that i take is another mistake to you
Caught in the undertow, just caught in the undertow
And every second i waste is more than I can take

I've
Become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
And becoming this
All i want to do
Is be more like me
And be less like you

And I know
I may end up failing too
But I know
You are just like me
With someone disappointed in you

I've
Become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
And becoming this
All i want to do
is be more like me
And be less like you

I've
Become so numb
I can't feel you there
(I'm tired of being what you want me to be)
I've
Become so numb
I can' t feel you there
(I'm Tired of being what you want me to be)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Minha Mulher - Anton Tchekov


A Minha Mulher, é um conto do escritor Russo Anton Tchekov, muito conhecido pelas suas histórias curtas (como é o caso desta), mas principalmente pelas várias peças de teatro maravilhosas que escreveu como a Gaivota ou o Tio Vânia.
Neste pequeno livro livro, tendo como base uma grave fome que alastra numa aldeia de camponeses na Rússia, Tchekov aborda um casamento fracassado, as suas causas e efeitos.
Pavel Anndreievitch, um alto funcionário público russo reformado, ao saber desta crise perto da zona onde habita, decide tomar a seu cargo a ajuda a esses pobres camponeses, para isso tenta criar uma espécie de comissão entre os ricos e poderosos da área para resolver esse problema.
Quando começa a coordenar as acções, descobre que a sua mulher, muito mais nova, bonita e com um carácter forte, mas com quem practicamente não tem relações nenhumas e as que tem são conturbadas, chegando inclusivé a viver em partes separadas da casa, já lhe tinha tomado a dianteira reunindo um grupo de pessoas à sua volta para isso.
A partir desta situação Tchekov começa a mostrar-nos o verdadeiro Pavel que é uma pessoa muito egoísta, metódica e com quem é difícil manter relações de amizade, mas que através da sua mulher e da descoberta do amor que ainda nutre por ela e juntamente com uma série de situações onde ele se apercebe do seu verdadeiro carácter, começa a descobrir-se a si próprio e a ter percepção do que a sua vida verdadeiramente é, uma vida de solidão.
Este pequeno livro, é uma lição de vida, mostra-nos como uma pessoa mesmo inconscientemente e com as mais nobres intenções, consegue prejudicar a vida dos outros e a sua felicidade.
Este livro, na edição original da Quasi e na versão distribuida pelo Diário de Notícias, tem também a particulariedade de ter sido traduzido pelo Luiz Pacheco, o que dá também um toque de ironia, como só ele conseguia fazer, sem nunca fugir ao original.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

António Alçada Baptista

Faleceu ontem aos 81 anos de idade, o escritor e jornalista António Alçada Baptista.
António Alçada Baptista, nascido na Covilhã e licenciado em Direito, foi um grande pensador e escritor, que deixou várias obras de grande qualidade tanto na área do Ensaio como no romance.
Considerando-se a si próprio como "escritor de afectos" e "com uma sensibilidade feminina", traços que são bastante evidente nas suas obras, foi igualmente um defensor da liberdade e dos direitos dos Homens.
As suas obras mais conhecidas são provavelmente as Peregrinação do Interior I - Reflexões sobre Deus e Peregrinação do Interior II - O Anjo da Esperança, obras estas que lhe valeram a sua consagração perante o público e a crítica.
Para além da literatura também esteve envolvido na política, foi presidente do Instituto Português do Livro e um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo.
Foi ainda agraciado com várias condecorações e prémios nacionais e estrangeiros.
Com este desaparecimento de Alçada Baptista, a cultura e a literatura portuguesa ficam de facto mais pobres.
Uma grande perda para todos nós.

A Herança de Eszter - Sándor Márai


Já que ando numa de livros pequenos em tamanho mas grandes em qualidade, aqui fica outro que li a seguir ao A Morte de Ivan Ilitch que se enquadra nessa categoria:
A Herança de Eszter - de Sándor Márai.
Sándor Márai, escritor húngaro de quem já falei aqui sobre outro livro que li dele, Rebeldes, traz-nos esta pequena história de um amor mal resolvido e de uma separação de mais de 20 anos.
Eszter, apaixonada por Lajos, um homem sem escrúpulos, vigarista, ambicioso e mentiroso, que casou com a irmã mais velha dela, está há mais de 20 anos sem o ver e sem ter notícias dele, vivendo pacatamente na sua casa de família apenas com uma tia mais velha como companhia, até ao dia em que recebe um telegrama a avisa-la da chegada de Lajos.
A partir daí vem ao de cima todo um conjunto de emoções, dúvidas e certezas acerca do seu amor por lajos e por tudo o que passou nesses 20 anos devido a ele.
Com a chegada de Lajos, com os seus filhos e mais dois estranhos acompanhantes inicia-se um desfilar de conversas, de situações contraditórias, desabafos, descobertas surpreendentes e outras mentiras, terminando com a "queda" de Eszter nas "garras" de Lajos sendo enganada novamente, embora com plena consciência e permissão dela para isso, apesar dos avisos dos amigos mais chegados.
Sándor Márai com este livro fala-nos do amor, do destino, das leis da vida e da nossa força ou fraqueza perante essas forças que se juntam ou separam transformando a nossa vida de várias formas.
Mais um dos livros que recomendo a sua leitura, pequeno, com uma escrita simples mas também muito directa.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A Morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstoi


Terminei de ler este pequeno livro em tamanho mas grande em qualidade que é A Morte de Ivan Ilitch do grande escritor Russo Lev Tolstoi.
Tolstoi com esta pequena história, muito directa, simples e sem rodeios, traz-nos a temática da morte e a forma como a aceitamos ou não e a sua implicação perante tudo, desde quem morre às pessoas que as rodeiam e que com ela (morte), poderão beneficiar ou não e as implicações que isso traz para o resto das suas vidas.
Ivan Ilitch, juiz que sempre teve uma vida "boa" e sem problemas, apesar do seu relacionamento conturbado com a sua esposa, adoece e começa lentamente a afundar-se nesse estado que vai aumentando lentamente de dia para dia, começando inicialmente por interferir com o normal desempenho da sua vida profissional e pessoal, e aumentado até culminar com a sua morte.
No periodo em que ele já se encontra em casa e impossibilitado de sair da mesma devido à doença, Ivan Ilitch faz uma regressão e análise profunda do que foi a sua vida e o significado da mesma, todas as suas acções, boas ou más, o seu casamento, a relação nada fácil com a esposa, os filhos, etc..
Este livro está considerado como um dos melhores da literatura mundial, gostei bastante de o ler, pequeno mas com uma escrita muito directa, por vezes crua que nos faz pensar "como será a nossa vez?" e "qual será realmente o nosso sentido de vida?".
Li a edição Booket da Dom Quixote, que para além de ser acessível à bolsa traz um prefácio de António Lobo Antunes, em que ele diz: "(…) não há sentimento que nele não figure, não há emoção que não esteja presente. Tudo o que somos se acha em poucas páginas, escrito de uma forma magistral".
Esta frase resume todo o livro.
Espero que gostem.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Expiação - Ian McEwan


Com este post, provavelmente irei contra a corrente em relação a este livro. Mas como este blog não é de crítica literária mas sim onde deixo a minha opinião sobre os livros que leio, vou ser sincero, como sempre sou mesmo que vá "contra a corrente".
Este livro, criou-me muitas expectativas, muita gente me disse bem dele, o filme baseado nele fez um sucesso estrondoso e eu próprio que já tinha lido outras coisas de Ian McEwan e tinha gostado, por isso tudo prometia que ia ser igual com este livro.
Mas para mim este livro foi uma desilusão!
Talvez por ter ouvido tanto sobre ele, tenha criado uma imagem na minha cabeça e depois de o ler, essa realidade fica muito aquém daquilo que esperava.
O livro estruturalmente está muito bom, o Ian McEwan é um óptimo escritor, com provas dadas e a história até tem muito potencial...
O problema é que na minha opinião (e desculpem a expressão) este livro está demasiado "lamechas"!
Tudo bem que a história talvez a isso obrigue, é uma história de amor, separação, intriga e arrependimento, mas na minha humilde opinião ele perde muito tempo na narrativa, na descrição de sentimentos e até mesmo de lugares.
A primeira parte do livro, onde eles ainda são todos jovens e onde se dá o "acontecimento" que é o mote da história, é muito maçudo. Por um lado é interessante a parte dos mesmos acontecimentos serem vistos pelos pontos de vista dos diferentes intervenientes mas ao mesmo tempo isso torna-se um pouco repetitivo e é também a meu ver a parte onde ele se deixa levar mais pela descrição sentimental e amorosa.
A segunda parte anos mais tarde e passada durante a 2ª Guerra Mundial, mais propriamente na retirada de França, já está melhor mas podia ter sido mais bem explorada a nível de acção, claro que este não é um livro de guerra, mas esse cenário podia ter sido mais aproveitado.
A terceira parte, para mim ainda é a melhor, gostei da descrição dos hospitais e da chegada dos feridos de França e da vida na Londres dessa época.
No geral o livro é bom, tem qualidade e não lhe nego esses atributos, talvez a culpa não seja do livro mas minha, por não ligar muito a essa temática do sentimental e emocional a nível do amor entre duas pessoas.
Por vezes parecia que estava a ler uma "tragédia grega".

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Da Condição Humana - Ary dos Santos


Todos sofremos.
O mesmo ferro oculto
Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta
O mesmo sal nos queima os olhos vivos.
Em todos dorme
A humanidade que nos foi imposta.
Onde nos encontramos, divergimos.
É por sermos iguais que nos esquecemos
Que foi do mesmo sangue,
Que foi do mesmo ventre que surgimos.

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira - Direito de resposta

Eme disse...
"(...) nomedamente para mulheres"?!?!?!?
Mas que comentário tao machista!!!
Aconselho-te a rever esses preconceitos...já não fazem nenhum sentido...

Minha cara (presumo) Eme, desde já peço desculpa pela má impressão que te deixei pelo texto do meu post sobre o Ensaio Sobre a Cegueira.
Quando eu fiz este último parágrafo:
"Em relação ao livro aconselho-o, mas deixo desde já a advertência que tem passagens um pouco fortes para pessoas mais susceptíveis nomeadamente para as mulheres."
Nunca foi com nenhum pensamento machista, coisa que, quem me conhece pode desde já afirmar-te que não sou! Antes pelo contrário, sempre tive o maior apreço e consideração pelas Mulheres, defendendo inclusivé que são mais inteligentes que os Homens.
Posto isto, a razão da existência deste parágrafo é relativa à parte (e aqui presumo que tenhas lido o livro), em que as mulheres são obrigadas a serem violadas para poderem ter comida.
Esta parte, que se a mim como Homem me impressionou, chegando mesmo a revoltar-me, imagino nas mulheres... (pensei eu).
Mais uma vez ficam as minhas desculpas e espero continuar-te a ter como visitante deste blog.
Pipas

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Tempo dos Imperadores Estranhos - Ignacio Del Valle



Mira que te mira Dios;
mira que te está mirando;
mira que vas a morir;
mira que no sabes cuándo.


Quando aparece um soldado morto em plena Rússia durante a II Guerra Mundial, isso não é fora do comum, mas quando esse soldado morto se encontra degolado e completamente sem sangue, já não é normal, menos normal ainda, é quando no corpo se encontra gravada o primeiro verso da quadra acima posta, (Mira que te mira Dios).
Este é o mote para este livro cuja acção se passa na frente russa durante a II Guerra Mundial, mais propriamente na Divisão Azul, um exército de voluntários espanhóis que lutaram juntamente com os Alemães contra os Russos.
Uma sucessão de homicídios, rituais maçónicos, um soldado com um passado problemático e um sargento com problemas gástricos nomeados para descobrir o homicida, mas apanhados na "guerra surda" de interesses entre o exército e os falangistas, são os ingredientes que fazem parte desta história.
O livro tem uma óptima base para ser um bom livro, uma boa temática e personagens complexos mas dá a sensação que falta aguma coisa, penso que a acção poderia ter sido mais explorada, de certeza que se conseguia um livro bem melhor. Para além da parte policial, também temos a parte "existencial" em que as diversas personagens se interrogam e se revelam, quando expostos a situações extremas como foi a guerra na Rússia durante o inverno.
É um livro que se lê bem, aprendem-se alguns factos da história de Espanha e consegue entreter-nos durante algum tempo.
Mais uma vez digo que na minha opinião acho que o livro tinha temática para ser mais explorada e desenvolvida, dá a sensação que falta ali qualquer coisa à medida que vamos lendo e que a acção se desenrola depressa demais.


domingo, 23 de novembro de 2008

Patient - Guns n' Roses


Shed a tear 'cause I'm missin' you
I'm still alright to smile
Girl, I think about you every day now
Was a time when I wasn't sure
But you set my mind at ease
There is no doubt
You're in my heart now

Said, woman, take it slow
It'll work itself out fine
All we need is just a little patience
Said, sugar, make it slow
And we come together fine
All we need is just a little patience

I sit here on the stairs
'Cause I'd rather be alone
If I can't have you right now
I'll wait, dear
Sometimes I get so tense
But I can't speed up the time
But you know, love
There's one more thing to consider

Said, woman, take it slow
And things will be just fine
You and I'll just use a little patience
Said, sugar, take the time
'Cause the lights are shining bright
You and I've got what it takes
To make it, We won't fake it,
I'll never break it
'cause I can't take it

...little patience
need a little patience,
just a little patience,
some more patience,
need some patience,
could use some patience,
gotta have some patience,
all it takes is patience,
just a little patience
is all you need

I been walkin' the streets at night
Just tryin' to get it right
Hard to see with so many around
You know I don't like
Being stuck in the crowd
And the streets don't change
But baby the name
I ain't got time for the game
Cause I need you
Yeah, yeah, but I need you
Oo, I need you
Whoa, I need you
Oo, all this time

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Viagem do Elefante - José Saramago

Terminei de ler o último livro de José Saramago, A Viagem do Elefante e gostei bastante.
O livro tem como personagem principal Salomão/Solimão um elefante indiano que veio da Índia para Portugal no séc. XVI que depois foi oferecido como presente pelo Rei D. João III ao seu primo o Arquiduque da Aústria Maximiliano II.
A acção e história do mesmo centra-se na viagem entre Portugal e a Aústria, e nas peripécias que o elefante e restante comitiva enfrentaram.
Para além de Salomão/Solimão também entra outro personagem chave na história que é o seu tratador ou "cornaca", o indiano Subhro/Fritz, que funciona como personagem chave e de ligação entre o elefante, as restantes personagens e a acção propriamente dita.
Como não há muitas informações e dados concretos e históricos sobre esse acontecimento, Saramago escreveu o livro com acontecimentos ficcionados, num tom de conversa entre amigos e com muita ironia à mistura.
Saramago considera este seu livro como uma metáfora da vida.

"[Contei esta história] em primeiro lugar, porque me apeteceu, e em segundo lugar, porque, no fundo - se quisermos entendê-la assim, e é assim que a entendo - é uma metáfora da vida humana: este elefante que tem de andar milhares de quilómetros para chegar de Lisboa a Viena, morreu um ano depois da chegada e, além de o terem esfolado, cortaram-lhe as patas dianteiras e com elas fizeram uns recipientes para pôr os guarda-chuvas, as bengalas, essas coisas", referiu Saramago.
"Quando uma pessoa se põe a pensar no destino do elefante - que, depois de tudo aquilo, acaba de uma maneira quase humilhante, aquelas patas que o sustentaram durante milhares de quilómetros são transformadas em objectos, ainda por cima de mau gosto - no fundo, é a vida de todos nós. Nós acabamos, morremos, em circunstâncias que são diferentes umas das outras, mas no fundo tudo se resume a isso".

Achei este livro absolutamente delicioso, com uma escrita simples e agradável (o antípoda do Ensaio Sobre a Cegueira, que li recentemente), que pode ser lido por todos mesmo para quem não aprecie a escrita dele, de certeza que com este livro a sua opinião vai mudar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Gaudí - Um Romance

Gaudí Um Romance, é como o nome indica uma biografia romanceada do grande arquitecto espanhol Gaudí, que transformou a cidade de Barcelona no esplendor que é hoje.
Este livro, escrito por Mario Lacruz, famoso editor espanhol, foi encontrado ainda como manuscrito e incompleto, aquando do espólio dos seus pertences após a sua morte.
Tal como o nosso Pessoa com a sua arca, também Mario Lacruz deixou dezenas de textos e manuscritos de livros nunca publicados.
Apesar de incompleto, o livro lê-se perfeitamente, apenas deixando a sensação de haver muito mais matéria para explorar.
A acção centra-se na vida de Gaudí, inicialmente um jovem rebelde e anticlerical e depois com o passar dos anos e com a sua obcessão com a construção da catedral da Sagrada Família se transforma num religioso e místico.
A história, começa pelo fim, com a morte de Gaudí e desenvolve-se a partir daí com flashbacks dos seus tempos de juventude, misturados com os último tempos da sua vida.
Tal como disse, é um livro interessante, pequeno e de fácil leitura, mas deixa-nos a sensação que podia haver muito mais.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Por incrível que pareça, ainda não tinha lido este livro do nosso Nobel José saramago! Mas devido a toda esta discussão à volta do filme realizado pelo brasileiro Fernando Meireles, baseado nesse mesmo livro e ao meu desejo de o ir ver, decidi ler o livro em questão para depois o poder comparar e até mesmo perceber e integrar-me melhor na história.
Bom... Só me arrependo de não o ter lido há muito mais tempo atrás, o livro é fabuloso.
A história deste livro, baseia-se numa súbita doença contagiante que cega as pessoas e concentra-se num pequeno grupo onde está inserida a única que não é atingida por esse mal.
A partir daí é desenvolvida toda a espécie de situações, desde o isolamento dos cegos e respectiva vida dos mesmos no isolamento, às formas de relacionamento entre os cegos, a adaptação (ou não) a uma nova vida e os oportunismos criados com esta situação.
O livro tem partes muito intensas, que chegam a ser violentas física e psicológicamente, explorando a condição humana e a falta dela, ou a rapidez com que se perde a mesma.
Apesar de ser um livro do Saramago, com a sua má fama de escrita complicada, não o achei assim. Lê-se extremamente bem, é muito descritivo e fluído, sem nunca ser monótono.
Se o filme for como o livro (que não é dito pelo próprio realizador), ou muito próximo, de certeza que vai ser um bom filme.
Em relação ao livro aconselho-o, mas deixo desde já a advertência que tem passagens um fortes para pessoas mais susceptíveis nomeadamente para as mulheres.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fado Alexandrino - António Lobo Antunes

Fado Alexandrino, é o 5º livro de António Lobo Antunes e é igualmente o maior.
Este livro, arranjando assim um ponto de comparação é uma espécie de "Ulisses" do James Joyce.
A acção propriamente dita decorre durante uma noite, madrugada e respectiva manhã em que num jantar de convívio de ex-combatentes da guerra colonial que tinham combatido em Moçambique, um grupo homens, o tenente - coronel (comandante do batalhão), um soldado, um alferes, um tenente e um capitão, vão contar toda a sua vida desde o dia da sua chegada da guerra até ao fim dessa manhã.
Sendo assim, o livro está dividido em três partes; antes da revolução, a revolução e depois da revolução e é nesse espaço temporal que a narrativa se vai desenrolando, com os personagens a contar todas as suas peripécias, contratempos, amores, desamores, casamentos, divórcios e tudo o mais que lhes aconteceu durante esses anos.
O livro para além de ser muito intenso (já se começa a notar o Lobo Antunes de escritos futuros), é também uma crítica profunda ao Portugal da década de 70 do século passado, com todos os seus defeitos, mesquinhices e brejeirices que nessa época (e na nossa igualmente) abundavam. É também uma crítica política pondo à mostra primeiro os excessos do regime anterior e da Pide e depois com a revolução, e a passagem de um regime acomodado e repressivo a um regime libertário e até mesmo um pouco "anarca", que foi o do Portugal pós 25 de Abril, o caos e os aproveitamentos plíticos e vinganças pessoais que daí adviram.
O livro tem um final inesperado, que vai contribuir para um desenlace da história nada esperado.
Eu gostei deste livro, tem uma história bem construida, a vida dos personagens é complexa e por vezes cruza-se, sem eles próprios se aperceberem e é igualmente como atrás referi uma espécie de descrição de usos e costumes do Portgal da década de 70 do século XX.
Para quem nunca leu Lobo Antunes, não aconselho este livro para se iniciar, agora para quem já leu e quiser aventurar-se e tiver "paciencia", devido ao tamanho do livro, aconselho-o vivamente.

domingo, 2 de novembro de 2008

Aleksandr Púchkin - "Queima o sangue um fogo de desejo..."



Queima o sangue um fogo de desejo,
De desejo a alma é ferida,
Dá-me os teus lábios: o teu beijo
É o meu vinho e minha mirra.
Reclina para mim a cabeça
Ternamente, faz que eu durma
Serena até que sopre um dia alegre
E se dissipe a névoa nocturna.

Aleksandr Púchkin

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Um Saramago do séc. XVII


Estava eu entretido e envolvido na minha leitura das aventuras de capa e espada do Capitão Alatriste, quando leio esta magnífica passagem:
- "Com sotaque lusitano argumentou outro, como consolo, (...). O dito correspondia a um valentão com colete até aos joelhos, escorrido de carnes e de cabelo, que era grisalho, abundante e frisado em redor de um crânio respeitável queimado pelo sol. Tinha sido teólogo em Coimbra, dizia-se, até que um mau lance o levou ao caminho da canalha. Todos o tinham por homem de leis e letras, além de toledana, era conhecido como Saramago, o Português, tinha ar de fidalgo e comedido, e dizia-se dele que despachava almas por necessidade, poupando como um judeu para poder imprimir, à sua custa, um interminável poema épico em que trabalhava há cerca de vinte anos e que contava como a Península Ibérica se separava da Europa e ficava a flutuar como uma jangada no oceano, tripulada por cegos. Ou coisa que o valha."

Arturo Pérez-Reverte "O Ouro do Rei" - As Aventuras do capitão Alatriste

Quem diria que tinha havido um antepassado do Saramago, com os mesmos hábitos do Camões e mercenário em Espanha!!!!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O Senhor Brecht - O Artista



O artista insultou um cirurgião dizendo que este só salvava o corpo enquanto ele, como artista, salvava o espírito.
Um dia o artista teve um acidente, entrou no hospital e foi salvo pelo cirurgião.
Anos mais tarde o cirurgião, a meio de uma conversa entre os dois, sucumbiu, e como o artista não conhecia as técnicas de reanimação, o amigo morreu nos seus braços.
O morto foi enterrado juntamente com uma valiosa tela do artista, o que muito sensibilizou os presentes.

Excerto de O senhor Brecht de Gonçalo M. Tavares - série O Bairro

sábado, 18 de outubro de 2008

O Jogo do Anjo - Carlos Ruiz Záfon


Amigos(as), ontem (hoje) estive até às 4 da madrugada a acabar de ler "O Jogo do Anjo", o livro é tão bom, a escrita e a história tão envolvente que fiz quase uma directa para o acabar de ler.
"O Jogo do Anjo", de Carlos Ruiz Záfon, é o sucessor (bem conseguido, diga-se) de "A Sombra do Vento", que tanto sucesso fez e que igualmente tanto me impressionou.
A acção de "O Jogo do Anjo", decorre numa Barcelona, antes da guerra civil espanhola, tão bem descrita que até parece que vivemos lá, e com uma envolvência misteriosa que nos abraça e nos faz cair na história "de cabeça" e tornando a própria cidade numa personagem.
Tal como em "A Sombra do Vento", a acção corre à volta de um escritor "esquecido", um livro "maldito" e uma história de amor impossível . É a única coisa que aponto como menos boa, por vezes para quem leu o livro anterior dá uma ligeira sensação de repetição, mas logo esquecida devido à qualidade da história.
Além destes elementos todos, também há uma aura de fantástico, de misticismo e religiosidade que torna ainda melhor a história.
Como personagens centrais neste livro temos igualmente a família Sampere e o Cemitério dos Livros Esquecidos, com o seu famoso guardião.
Não é necessário ler "A Sombra do Vento", para se ler este livro, são histórias totalmente independentes, mas em certos aspectos e pormenores geneológicos, ajuda para nos integrarmos melhor nos personagens.
Eu simplesmente adorei o livro, achei-o tal como o anterior de uma genialidade e sensibilidade maravilhosa, recomendo a sua leitura a todos, de certeza que irão ter uma opinião igual à minha.
Como devem de compreender não vou deixar nenhum resumo do livro porque há muita gente que o está a ler e isso só ia estragar a sua leitura.

O Senhor Juarroz - O Aborrecimento

Como a realidade era para o senhor Juarroz uma matéria aborrecida ele só deixava de pensar quando era mesmo imprescindível. Eis algumas situações em que era obrigado a deixar de pensar:
- quando falavam com ele muito alto
- quando o insultavam
- quando o empurravam
- quando tinha de utilizar qualquer objecto útil à sua volta.

Por vezes, mesmo nas situações atrás descritas, o senhor Juarroz não saía dos seus pensamentos e por isso os outros supunham que ele:

- era surdo (porque não ouvia quando falavam com ele muito alto)
- era cobarde (porque o insultavam e ele não reagia)
- era desastrado (porque pegava mal nas coisas, deixando-as cair ao chão).

No entanto, ele não era surdo, nem cobarde, nem desastrado. Simplesmente, para o senhor Juarroz, a realidade era uma matéria que aborrecia.

Excerto de O Senhor Juarroz - Gonçalo M. Tavares (série O Bairro)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Rebeldes - Sándor Márai



Sándor Márai, escritor Húngaro, contemporâneo de Musil, e que tal como ele infelizmente pouco conhecido, escreveu vários livros muito bons, sendo este "Rebeldes" um deles.
Este livro, "Rebeldes" trata da história de um grupo de jovens adolescentes numa pequena cidade Húngara, no periodo final da I Guerra Mundial.
Este grupo de jovens, com os pais fora a combater, sente-se livre e independente e formam um "Bando" onde libertam toda a sua fúria e liberdade com jogos, mentiras, intrigas e roubos.
Conhecem igualmente um actor de uma companhia de teatro local que vai ser uma peça fundamental para o desenrolar da acção.
Tal como Musil no seu livro "As Perturbações do Pupilo Torless", Márai com esta história aborda vários temas complexos que eram comuns à juventude dessa época (e da nossa igualmente), como as grandes amizades, o despertar da sexualidade e do erotismo, a liberdade, o amor, a intriga, a traição e tudo o mais que nos perturba na passagem da adolescência à idade adulta.
O livro aborda também a época, retratando a sociedade e costumes de uma forma muito intensa e emocional.
O livro tem cerca de 240 páginas, com algumas partes menos fáceis de se ler, mas no geral é agradável e envolvente.
Como já devem de se ter apercebido achei-o, talvez devido à temática, muito parecido ao livro de Musil que referi no post, mas isso também se deve a serem contemporâneos e oriundos da mesma zona da Europa e estarem por isso integrados em sociedades muito iguais.
Gostei de o ler e recomendo

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Senhor Henry - A Realidade


O senhor Henry disse: se um homem misturar absinto com a realidade obtém uma realidade melhor.

... podem crer, excelentíssimos ouvintes, que vos falo, não por via de uma erudição, que sem dúvida alguma possuo em grandes quantidades; mas não, não é por aí que a minha voz vem.

... a minha voz vem da experiência, caros concidadãos!

... é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor.

... mas também é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica com um absinto pior.

... muito cedo tomei as opções essenciais que há a tomar na vida - disse o senhor Henry.

... nunca misturei o absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto.

... mais um copo de absinto, caro comendador. E sem um único pingo de realidade, por favor.


Excerto de "O Senhor Henry" da série "O Bairro" de Gonçalo M. Tavares

domingo, 12 de outubro de 2008

Pink Floyd - Wish You Were Here


So, so you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skys from pain.
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heros for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears.
Wish you were here.


Waters/Gilmour

O Senhor Valéry - Os Dois Lados


O senhor Valéry era perfeccionista.
Só tocava nas coisas que estavam à sua esquerda com a mão esquerda, e nas coisas que estavam à sua direita com a mão direita.
Ele dizia:
-O Mundo tem 2 lados: o direito e o esquerdo, tal como o corpo; e o erro surge quando alguém toca o lado direito do Mundo com o lado esquerdo do corpo, ou vice-versa.
Seguindo escrupulosamente esta teoria, o senhor Valéry explicava:
-Eu dividi a minha casa em dois, com uma linha.
E desenhava
Defini um lado direito e um lado esquerdo
-Assim, para os objectos do lado direito reservo a minha mão direita, e vice-versa.
Nesse momento, perante uma dúvida colocada por um amigo, o senhor Valéry explicou:
-Aos objectos muito pesados coloco-os exactamente com o seu centro na linha.
E desenhou
-Assim - explicava o senhor Valéry - posso carregá-los utilizando a mão esquerda e a mão direita, desde que tenha o cuidado de os transportar com o seu centro exactamente sobre a linha divisória.
-Para os objectos leves - continuou o senhor Valéry - não necessito de tantas preocupações: mudo-lhes a posição apenas com uma das mãos. A mão certa, claro.
-Mas como manter esse rigor em todas as situações? - perguntou-lhe o mesmo amigo: - Quando o senhor Valéry está de costas, por exemplo, como sabe qual a parte direita e esquerda da casa?
O senhor Valéry mostrou-se quase ofendido com a questão, pois não gostava de ser posto em causa, e respondeu, bruscamente:
-Eu nunca viro as costas às coisas.
(Isto era o que o senhor Valéry dizia, mas na verdade, para nunca se enganar, havia pintado todo o lado direito da casa, incluindo os seus objectos, de vermelho, e todo o lado esquerdo de azul. Assim se percebia melhor a verdadeira razão de o senhor Valéry ter pintado a sua mão direita de vermelho e a esquerda de azul. Não tinha sido um acto estético, como ele dizia. Era bem mais do que isso.)
Extracto de "O Senhor Valéry" de Gonçalo M. Tavares

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os Romanos - Max Gallo



Recentemente terminei de ler o primeiro volume da série "Os Romanos" escrito por Max Gallo
Max Gallo, francês doutorado em Letras e professor de História, foi igualmente jornalista e político, sendo inclusivamente comissário e deputado europeu, já escreveu mais de 90 livros sendo famoso pelas suas biografias de personagens históricas, vem com esta série de cinco livros focar-se na história do Império Romano.
Pegando em personagens chaves de cada época do Império e através das suas histórias, mostra-nos a sua evolução, a sua vida social, a sua política e as suas guerras.
Com um rigor histórico impressionante, mas sem deixar que isso atrapalhe a acção ficcionada, Max Gallo presenteia-nos com um narrativa cheia de acção e descrição, principalmente nas partes relacionadas com batalhas, guerras e nas lutas corpo a corpo.
As descrições por vezes são tão empolgantes que parece que estamos a assistir a essas mesma lutas.
Naturalmente com este realismo há certas partes mais "pesadas" e violentas que nos põem a pensar como os homens se tratam uns aos outros e sobre a falta de humanidade dos mesmos.
O primeiro livro, que é sobre Espártaco, o escravo que liderou uma grande revolta na época a República, põe-nos a pensar sobre o sentido de liberdade e naquilo que somos.
Os volumes da série são:
Espártaco - A Revolta dos Escravos
Nero - O Reinado do Anti-Cristo
Tito - O Martírio dos Judeus
Marco Aurélio - O Martírio dos Cristãos
Constantino, O Grande - O Império de Cristo
Os livros são editados pela ASA
Recomendo a sua leitura e de certeza que os apreciadores de Romance Histórico irão concordar comigo em relação à sua qualidade.

domingo, 5 de outubro de 2008

Tempo dos Assassinos - Jorge Palma


Quero o silêncio do arco íris
Quero a alquímia das estações
Quero as vogais todas abertas
Quero ver partir os barcos
Prenhos de interrogações

Amo o teu riso prateado
Como se a lua fosse tua
Vou pendurar-me nos teus laços
Vou rasgar o teu vestido
Eu quero ver-te nua

Vivemos no tempo dos assassinos
Tempo de todos os hinos
Ouvimos dobrar os sinos
Quem mais jura
É quem mais mente

Vou arquitectar destinos
Sou praticamente demente.......

Eu quero ver-te alucinado
Eu quero ver-te sem sentido
Sem passado e sem memória
Quero-te aqui no presente
Eternamente colorido

Porque abomino o trabalho
Se trabalhasse estava em greve
Se isto não te disser tudo
Arranja-me um momento mudo
O menos possível breve

Vivemos o tempo dos assassinos
Tempo de todos os hinos
Ouvimos dobrar os sinos
Quem mais jura
É quem mais mente

Vou arquitectar destinos
Sou praticamente demente.......

Amo o teu riso prateado
Como se o Sol só fosse teu
Vou pendurar-me no teu laço
Amachucar-te essa camisa
Como se tu fosses eu
Como se tu fosses eu
Como se tu fosses eu


Jorge palma

sábado, 4 de outubro de 2008

Os Homens Que Odeiam as Mulheres


Um dos vários livros que li durante o periodo em que estive afastado do blog, foi "Os Homens Que Odeiam Mulheres", de Stieg Larsson, pertencente à trilogia "Millenium"
O livro, tem um pouco mais de 400 páginas e li-o em 2 dias.
A história, evidentemente não é nenhuma obra-prima e até podia estar um pouco mais desenvolvida em certos aspectos, mas no geral consegue prender o leitor e criar um clima, não digo de suspense, mas de dúvida e curiosidade.
Larsson, pega em vários temas "quentes" da actualidade, como a alta finança, as novas tecnologias, a ética jornalística e mistura tudo numa demanda em busca de alguém que desapareceu há 40 anos e de quem ninguém sabe o que lhe aconteceu.
Junta igualmente o "lado negro" dos homens, o sadismo e o desrespeito por outros seres humanos.
No conjunto é um livro que prende o leitor (a mim pelo menos) do princípio ao fim.
Recomendo, é uma boa leitura para quem quer passar um bom pedaço de tempo a ler, sem ter de puxar muito pela cabeça.

Sinopse

"O jornalista de economia MIKAEL BLOMKVIST precisa de uma pausa. Acabou de ser julgado por difamação ao financeiro HANS-ERIK WENNERSTÖM e condenado a três meses de prisão. Decide afastar-se temporariamente das suas funções na revista Millennium. Na mesma altura, é encarregado de uma missão invulgar. HENRIK VANGER, em tempos um dos mais importantes industriais da Suécia, quer que Mikael Blomkvist escreva a história da família Vanger. Mas é óbvio que a história da família é apenas uma capa para a verdadeira missão de Blomkvist: descobrir o que aconteceu à sobrinha-neta de Vanger, que desapareceu sem deixar rasto há quase quarenta anos. Algo que Henrik Vanger nunca pôde esquecer. Blomkvist aceita a missão com relutância e recorre à ajuda da jovem LISBETH SALANDER. Uma rapariga complicada, com tatuagens e piercings, mas também uma hacker de excepção. Juntos, Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander mergulham no passado profundo da família Vanger e encontram uma história mais sombria e sangrenta do que jamais poderiam imaginar."


Ian Curtis - Love will tear us apart


When routine bites hard,
And ambitions are low,
And resentment rides high,
But emotions won't grow,
And we're changing our ways,
Taking different roads.

Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side.
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry.
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives.

But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

You cry out in your sleep,
All my failings exposed.
And there's a taste in my mouth,
As desperation takes hold.
Just that something so good
Just can't function no more.

But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Adeus Dinis Machado

Faleceu hoje em Lisboa com 78 anos de idade o escritor e jornalista Dinis Machado.
Dinis Machado, era jornalista desportivo, crítico de cinema e foi director da revista Tintin.
Como escritor, Dinis Machado é conhecido pelo livro "O Que Diz Molero", que é um marco da literatura moderna em Portugal, marcou uma geração devido à temática do mesmo e à sua escrita, simples e engraçada.
Mais tarde esse mesmo livro foi adaptado a teatro tendo o António Feio e o José Pedro Gomes como encenadores , causando um grande sucesso.
Escreveu igualmente vários romances policiais sob o pseudónimo Dennis McShade que estão a ser reeditados actualmente pela editora Assírio e Alvim.
Para além desses livros escreveu outros, em seu nome, que infelizmente não tiveram a saída e o reconhecimento que mereciam, passando um pouco à margem no circuito editorial nacional.
Este falecimento é uma grande perca para a literatura Portuguesa, Dinis Machado era um Homem "crítico" e inteligente, prova disso é a sua obra, principalmente "O Que Diz molero", que eu já li e que a todos aconselho que aborda temas complexos com uma suavidade e graça que nos deixam sempre com um sorriso na boca.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Os Prazeres e as Sombras - Ballester





Durante as últimas arrumações que de vez em quando faço nos livros que tenho no meu escritório/biblioteca na minha casa, fixei o meu olhar nos três volumes de "Os Prazeres e as Sombras" de Gonzalo Torrente Ballester e decidi voltar a relê-los.
Li esta obra se não me engano por volta de 1999 quando vivi na ilha do Faial nos Açores.
Nessa altura tinha então vinte e poucos anos, e adorei ler essa história, chegando mesmo a marcar-me. Agora passados quase dez anos voltei a reler esses livros, com mais maturidade e experiencia de vida, tendo com isso apreciado ainda mais a história e tudo o que ela nos transmite.
“Os Prazeres e as Sombras”, estão divididos em três livros: “Aí Vem o Senhor”; “Onde os Ventos Mudam” e “A Páscoa Triste” e retratam a vida numa pequena cidade da Galiza nos anos trinta do séc. XX imediatamente antes da guerra civil que tanto infortúnio trouxe a Espanha.
A acção inicia-se com a chegada de Carlos Deza, o último dos Chuchurraos, família de descendencia nobre que detinha o poder na cidade de Publanueva del Conde desde sempre mas que agora se encontra em decadencia. O poder é agora exercido pela família Cayetano donos do grande estaleiro que emprega a quase totalidade das pessoas da cidade.
Originários das classes baixas, do “povo” os Cayetanos conseguiram construir a fortuna a seu custo, com a criação e evolução do estaleiro, sendo por isso inimigos declarados dos Chuchurraos que apenas herdaram as riquezas e o poder dos antepassados.
Com a chegada de Carlos Deza, que tinha saido de Pueblanueva muito novo, e entretanto formado em psicologia na Austria, com Freud, cria-se um clima de expectativa e de guerra surda entre as familias, seus apoiantes e o que elas representam.
Por um lado temos o filho Cayetano, o todo-poderoso da cidade, o mais rico, mais cobiçado pelas mulheres e com um numeroso grupo de “bajuladores” e “alcoviteiros”, sempre prontos a estarem do seu lado se isso lhes trouxer benefícios. E do outro lado Carlos Deza, pouco interessado na vida da cidade e das suas “guerras”, mas incitado e apoiado pela D. Mariana a segunda pessoa mais rica da cidade e dona dos barcos de pesca que ainda não estão debaixo da alçada de Cayetano.
Intervém também uma mulher (Clara Aldán) que se interpõe entre ambos e que vai ser a responsável da mudança definitiva que irá acontecer na vida de todos no final.
Ao longo de cerca de dois anos, inúmeros acontecimentos irão perturbar, interferir e alterar a vida da cidade e dos seus habitantes contribuindo para a grande diversidade da história.
Esta obra, traz-nos um grande leque de personagens, com uma grande complexidade emocional e psicológica, explorada ao máximo, retratando as suas paixões, os seus medos, o seu íntimo e as suas guerras interiores, de uma forma fenomenal, intensa e séria, que nos prende à leitura até à última página do último livro.
Para além de toda a complexidade com os personagens, Ballester também descreve uma época da história de Espanha muito conturbada, onde uma sociedade muito agarrada às suas tradições ainda “feudais”, tenta passar e adaptar-se a uma modernidade, tanto social como política.
Foi a época da República, do socialismo, do anarquismo, das lutas contra igreja e que culminaram com a guerra civil e com a ditadura de Franco.
Aborda também questões de temática religiosa e a visão da mesma por várias perspectivas, tanto dentro da igreja, como fora dela.
Esta obra está considerada uma das obras-primas da literatura do séc. XX e trouxe toda a mestria, conhecimento e sensibilidade de Ballester ao de cima.
Foi igualmente adaptada como uma série de TV em Espanha.
Já li muitos livros, mas nunca nenhum que me apaixonasse tanto como este(s). São três livros que rondam as 400 páginas cada, mas de uma leitura suave e envolvente, faz-nos entrar dentro da história, de uma forma tal que é um custo parar de ler.
Para quem não tenha medo de ler, este livro(s) é o que eu mais aconselho a ler a toda a gente.
Fiquem bem.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Livro das Ilusões

Paul Auster, um dos melhores escritores Norte - Americanos da actualidade, consegue com esta obra, trazer ao leitor várias histórias dentro do mesmo livro.
Começa com a história de David Zimmer, personagem que serve como fio condutor e elo de ligação das diversas histórias que se cruzam dentro da história principal.
Zimmer, professor universitário perde a mulher e os filhos num acidente de avião e devido a isso cai numa depressão profunda e na bebida. Mas certo dia, descobre através de um programa de televisão Hector Mann, antigo actor cómico do cinema mudo, que desapareceu misteriosamente em 1929, sem que nunca se descobrisse o que lhe terá acontecido e decide escrever um livro sobre a vida dele.
Através da investigação da vida de Hector e a respectiva escrita do livro, Zimmer aos poucos vai sainda da depressão e voltando a uma aparente normalidade. Após da publicação do livro sobre Hector, decide aceitar fazer a tradução de "Memórias do Túmulo" do escritor francês Chateaubriand. Para melhor se dedicar a essa tarefa, compra uma propriedade num local remoto para se isolar e concentrar na tarefa.
De repente tudo muda, Zimmer começa a receber umas cartas, aparentemente da esposa de Hector Mann que lhe diz que ele está vivo,leu o livro e lhe quer falar.
Ao princípio Zimmer pensa que é uma brincadeira e não liga até que recebe a visita de uma misteriosa rapariga, determinada a levá-lo até Hector Mann...
A partir daqui toda a acção se desenrola com a descrição da extraordinária história da vida de Hector Mann, uma história fantástica e extraordinária, uma autentica lição de vida.
Com este livro, Paul Auster para além da beleza da história e da sua escrita, transporta-nos também para o universo do cinema, primeiramente o do cinema mudo e depois para o do cinema em geral, mostrando-nos a sua técnica, produção e forma de construir filmes.
Dentro deste livro temos também a história que deu origem ao filme "A Vida interior de Martin Frost", que já fiz referencia no Pipasblog.
Dos livros de Paul Auster que já li, este a par de "As Loucuras de Brooklyn", é dos melhores e dos mais belos.
Recomendo a sua leitura a todos.

domingo, 7 de setembro de 2008

As Fotos do Fogo

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

A guerra deu na tv
foi na retrospectiva
corpo dormente em carne viva
revi p´ra mim o cheio aceso
dos sítios tão remotos
e do corpo ileso
vou-te mostrar as fotos
olha o meu corpo ileso

Olha esta foto, eu aqui
era novo e inocente
"às suas ordens, meu tenente!"
E assim me vi no breu do mato
altivo e folgazão
ou para ser mais exacto
saudoso de outro chão
não se vê no retrato

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

Nesta outra foto, é manhã
olha o nosso sorriso
noite acabou sem ser preciso
sair dos sonhos de outras camas
para empunhar o cospe-fogo e o lança-chamas
estás são e salvo e logo
"viver é bom", proclamas

Eu nesta, não fiquei bem
estou a olhar para o lado
tinham-me dito: eh soldado!
É dia de incendiar aldeias
baralha e volta a dar
o que tiveres de ideias
e tudo o que arder, queimar!
no fogo assim te estreias

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

Nesta outra foto, não vou
dar descanso aos teus olhos
não se distinguem os detalhes
mas nota o meu olhar, cintila
atrás da cor do sangue
vou seguindo em fila
e atrás da cor do sangue
soldado não vacila

O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terremotos
costumam desfocar as formas
matamos, chacinamos
violamos, oh, mas
será que não violamos
as ordens e as normas?

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

Álbum das fotos fechado
volto a ser quem não era
como a memória, a primavera
rebenta em flores impensadas
num livro as amassamos
logo após cortadas
já foi há muitos anos
e ainda as mãos geladas

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
quando a recordo
sei que quase logo acordo
a morte dorme parada
nesta morada

Sérgio Godinho

sábado, 6 de setembro de 2008

As manhãs


Das manhãs

Apenas levarei a tua voz

Despovoada

Sem promessas
sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs E madrugadas

Daniel Faria

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sem net...

Devido a problemas que me ultrapassam, encontro-me sem net.
Assim que tiver o problema resolvido, volto ao trabalho.
Até lá... Fiquem bem
Pipas

domingo, 24 de agosto de 2008

Master and Commander

Como já devem de ter reparado, um dos meus temas literários preferidos, são os romances históricos, já referi vários deles, no Pipasblog e neste blog, a série Alatriste.
Naturalmente, este próximo comentário é sobre outra série de romances históricos que eu igualmente aprecio e muito.
Os livros em questão, são as aventuras do capitão Jack Aubrey e do médico seu amigo Stephen Maturin, na série "Master and Commander", que retrata a vida da Royal Navy (Marinha de Guerra Inglesa) no princípio do séc XIX, durante as guerras napoleónicas.
Recentemente esta série deu origem a um esplêndido filme, com Russell Crowe a desempenhar o papel do capitão Aubrey de uma forma exemplar.
Este livros, são escritos por Patrick O'Brian, escritor inglês que iniciou a série nos anos 70 do séc. XX e conta já com 20 livros publicados só desta série, tendo igualmente uma vasta obra publicada relacionada com outros temas.
O rigor histórico nesta série é impressionante, tal como a vida a bordo e toda a parte naútica descrita.
Os pormenores são exaustivos, as descrições das acções de marinharia, navegação, todo o aparelho do navio, (parte relativa à manobra do mesmo, desde as velas, mastros, lemes, etc.), é descrito com uma intensidade tal, que nos faz pensar que pertencemos à tripulação dos navios e que os estamos a manobrar ou a participar nas diversas acções, como as fainas de velas, por exemplo.
Igualmente, a parte humana também é magnificamente retratada, as relações entre os marinheiros, a vida a bordo com todas as suas dificuldades, a hierarquia militar, tudo é levado ao pormenor sem descurar nada.
Eu, devido à minha vida profissional, posso assegurar que assim foi e ainda são, algumas das coisas descritas nos livros, referente à vida a bordo.
Os livros, para além de muito rigorosos nos aspectos atrás referidos, também estão repletos de acção, combates navais, abordagens, lutas corpo a corpo, todo esse lado que faz parte das guerras navais da época, especialmente neste periodo em que Ingleses e Franceses lutavam pelo domínio dos mares, tornando assim os livros empolgantes, absolutamente fantásticos e viciantes, nunca se tornando monótonos.
Em Portugal, só tenho conhecimento da publicação de três livros da série, respectivamente os três primeiros, pela ASA.
Os títulos dos mesmos são:
- Capitão de Mar e Guerra
- Capitão de navio
- A Fragata Surprise
Tal como na série do Capitão Alatriste, continuo à espera da publicação de mais alguns pela parte das editoras portuguesas, (senão há sempre a Amazon, para quem saiba ler inglês).
Uma proposta que deixo, é a aquisição do conjunto (igual ao que eu adquiri) dos três livros mais o DVD do filme, que se pode encontrar em alguns hipermercados por um preço bastante razoável.
Fica mais uma sugestão de leitura espero que gostem.
Fiquem bem
Pipas

THE END

This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end

Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I'll never look into your eyes...again

Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need...of some...stranger's hand
In a...desperate land

Lost in a Roman...wilderness of pain
And all the children are insane
All the children are insane
Waiting for the summer rain, yeah

There's danger on the edge of town
Ride the King's highway, baby
Weird scenes inside the gold mine
Ride the highway west, baby

Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold

The west is the best
The west is the best
Get here, and we'll do the rest

The blue bus is callin' us
The blue bus is callin' us
Driver, where you taken' us

The killer awoke before dawn, he put his boots on
He took a face from the ancient gallery
And he walked on down the hall
He went into the room where his sister lived, and...then he
Paid a visit to his brother, and then he
He walked on down the hall, and
And he came to a door...and he looked inside
Father, yes son, I want to kill you
Mother...I want to...fuck you

C'mon baby, take a chance with us
C'mon baby, take a chance with us
C'mon baby, take a chance with us
And meet me at the back of the blue bus
Doin' a blue rock
On a blue bus
Doin' a blue rock
C'mon, yeah

Kill, kill, kill, kill, kill, kill

This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end

It hurts to set you free
But you'll never follow me
The end of laughter and soft lies
The end of nights we tried to die

This is the end

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Poema dum Funcionário Cansado



A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só


António Ramos Rosa

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Vale da Paixão


O último livro que terminei de ler, foi "O Vale da Paixão", da escritora portuguesa Lídia Jorge.
Este livro, retrata um periodo de cerca de 40 anos, numa família rural algarvia.
Toda a acção, gira em torno das lembranças de um dos elementos da família, a filha/sobrinha/neta mais velha, que através dos seus actos, nos dá a conhecer a história do livro.
Essa personagem, vai traçar um retrato composto de memórias, centradas noutro personagem principal, "Walter", o filho mais novo do clã Dias.
Walter, cedo se torna o filho "rebelde", não querendo trabalhar nos campos com a família, fugindo e desobedecendo ao pai, tendo apenas como paixão desenhar pássaros e como companhia, uma manta de soldado.
Numa das suas fugidas, Walter engravida uma rapariga, mas entretanto é enviado para a tropa pelo pai e prefere ir para a Índia cumprir serviço militar do que regressar a casa e casar.
Para limpar a honra da família, essa rapariga é casada com o irmão mais velho de Walter, Custódio que é igualmente o braço direito do pai na gestão da casa, família e negócios.
Desde o momento que Walter parte para a Índia inicia uma viagem sem fim, pelo mundo, fazendo disso o seu modo de vida, regressando apenas uma vez a casa.
É a partir desse regresso, que a história é contruída, correndo em paralelo a história de Walter, da sua sobrinha (que é mais do que sua sobrinha), e restante clã Dias, cujos filhos aos poucos "fogem" do trabalho do campo, abandonando o pai, emigrando para vários países da América para fazer fortuna.
Lídia Jorge, com este livro faz um retrato da vida e costumes de Portugal da década de 50 à de 80, através dos olhos de uma rapariga que cresce nesse periodo, que observa e participa nas mudanças profundas que ocorrem na sua família, e ao mesmo tempo na busca que ela faz ao seu passado, para se poder reconciliar com o presente.
O livro tem um linguagem muito íntima, suave e melancólica, é uma história muito bonita que se lê muito bem.
A autora, com este livro recebeu vários prémios literários o que demonstra bem a qualidade do livro e a dela, sendo a meu ver uma das melhores escritoras portuguesas da actualidade.
Espero que gostem.
Pipas

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Interrogação



Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha

domingo, 17 de agosto de 2008

Os Cus de Judas



Recentemente li mais um livro de um dos maiores escritores Portugueses vivos.
O livro em questão é "Os Cus de Judas" de António Lobo Antunes, apontado por muitos como o nosso próximo "Nobel da Literatura".
Este livro, o segundo na sua já vasta carreira, publicado em 1979 é uma espécie de relato, profundo, duro e intimista sobre a sua experiência, durante os 27 meses que serviu como Alferes/Tenente milicano médico na guerra colonial, mais propriamente em Angola.
O livro, funciona como uma espécie de diálogo entre ele a uma outra personagem feminina, que se inicia num bar de noite e continua noite dentro até de manhã na casa dele.
Dividido em 23 capítulos, identificados com as letras do alfabeto, cruza o presente (da época em que foi escrito o livro), com o passado, através da descrição da guerra.
Os episódios em relação à guerra são duros, vistos com a intensidade de quem neles participou, com uma linguagem própria, sem pudor e sem esconder nada, descrevendo a violência exterior da guerra, com os combates, mortes, feridos, sangue, etc., como a interior própria de quem nela participava, com os seus conflitos morais ou ausência deles.
Os intervenientes são apresentados como pessoas normais, que sujeitas à situação particular da guerra que respondem às situações de diversas maneiras, mostrando a natureza humana debaixo de condições adversas..
Fica também demonstrado neste livro uma crítica muito grande ao regime, tanto nos acontecimentos relativos às intervenções de inspectores da PIDE no terreno, como às chefias militares e políticas em Lisboa.
Adorei este livro, não é de leitura fácil e tem passagens muito fortes, tal como os restantes livros de Lobo Antunes é para ser lido com muita calma, paciência e gosto.
Mostra uma fase difícil na história portuguesa contemporanea, que deixou feridas, físicas e psicológicas a uma geração inteira de jovens que foram enviados para a guerra, sem saber muito bem porquê...
Recomendo este livro a todos.
Pipas

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Capitão Alatriste

Boas amigos(as), hoje venho falar-vos de uma série de livros que recentemente li.
A série, por enquanto apenas três, publicados em Portugal pela ASA, chama-se "As Aventuras do Capitão Alatriste"
Estes livros, escritos pelo consagrado escritor Espanhol, Arturo Pérez-Reverte, autor do famoso Clube Dumas e outros que já comentei no Pipasblog, retratam as aventuras de um "espadachim" na Espanha do séc. XVII, durante o reinado de Filipe IV.
Diego Alatriste, personagem central dos livros, é um ex-soldado que combateu nas guerras das Flandres e Itália, sendo em tempo de paz, na Madrid decadente e perigosa, uma "espada a soldo", que vende os seus serviços de soldado a quem necessita.
As aventuras e desventuras de Alatriste, são narradas por Inigo Balboa, um jovem cujo pai foi companheiro de armas na Flandres e que lá morreu em combate, pedindo a Alatriste que cuida-se dele.
Inigo, narra as aventuras de Alatriste, na 1ª pessoa porque participa nelas e tem mesmo participação principal em algumas delas, para além de Inigo, também fazem parte das aventuras, nomes famosos da Espanha dessa altura, como o poeta Quevedo e o pintor Velazquez.
Nos dois primeiros livros, Alatriste envolve-se em conspirações e intrigas nacionais e até mesmo internacionais, ganhando com isso inimigos muito poderosos na corte, mas também alguns amigos.
No terceiro livro Alatriste e Inigo, voltam às guerras da Flandres, entretanto recomeçadas e aí lutam por Espanha, sofrendo todas as vicissitudes que os soldados sofrem nas guerras.
Reverte, com esta série de livros, retrata de uma forma interessante e aventureira, mas sem nunca faltar ao rigor histórico, um periodo, chamado de "século de oiro" na história de Espanha, que nessa altura controlava meio mundo, Portugal incluido, sendo a época do reinado dos Filipes de Espanha no nosso país.
Estes livros trazem também um género literário que tem o seu expoente máximo nos "Três Mosqueteiros" de Dumas, que são as aventuras de capa e espada, que ultimamente têm sido esquecidas.
Eu adorei ler estes livros, repletos de acção, bem estruturados e fáceis de ler, uma leitura fácil e agradável, que inclusivamente já deram origem a filme, com Viggo Mortensen no papel de Alatriste.
Acho que estes livros são uma óptima leitura para todos, mas especialmente para adolescentes, são bons livros para despertar o interesse da leitura.
Os livros publicados em Portugal são:
- O Capitão Alatriste -ASA
- Limpeza de Sangue - ASA
- O Sol de Breda - ASA
Aguardo com impaciencia a publicação dos restantes.
Fiquem bem
Pipas